Eu e mim, mim e eu, num salto no abismo

Eu e mim, dialogando alguns anos atrás, nos desentendemos, eu fui para um lado e mim foi pro outro. Eu fiquei feio e vazio, esquecido de mim mesmo, como um monge em seu mosteiro. Um corrosivo e cavernoso frio se instalou na casa da minha alma, e fiquei imóvel, eterno, como Jesus em Deus fez sua morada. Por muito tempo o vazio permaneceu com a boca aberta bafejando seu nirvana. Ora!, pensei eu, se de mim nada quero, que quero eu de mim? E o diabo, se apresentando, disse: estraçalhararei sua alma como a um peixe sob os dentes. E eu sorri sarcasticamente, e em silêncio pensei: serei o próprio demônio que vendeu a alma a si mesmo?

Se fora medo ou não, que me julguem quem puder entender: saltei do pico da montanha da minha divindade, rindo como o bobo da corte, louco, para o grande abismo do meu ego ...

Quantos de mim já não passaram influenciando cada letra destes pensamentos! Somos muitos em minha casa, sou meu pai na condição de meu filho e minha mãe na condição de minha avó. Pari-me sem cesariana, a ferro e fogo tirei-me de mim mesmo.

Todos os dias do cotidiano passamos juntos fantasiando parábolas com a realidade, cantando no silêncio a Legião, as vozes dos mil demônios de Maya que se agitam e se misturam com o ser.

Cada ser consciente do meu sonho é fruto dos meus próprios desejos e sentimentos; cada amor, cada amizade, é um pedaço do meu sonho. Tomei por sonho a vida e Deus me fez pastor da imaginação (Ele tentou ), mas eu resolvi soltar todas ovelhas pra correr juntas pelo pasto.

No fundo da alma não há paz que suceda a mim, é uma insânia louca de viver ser sempre o outro que é enganado por mim mesmo.

A verdade e a mentira em mim só vale como máscara para interpretar. A inverdade é minha arte, é a ambivalência de minha alteridade. No entanto, eu não cultivos valores, aaaaa... não ser o de desvalorizar o valor de ontem porque hoje é hoje. Eu, filho da consciência, pai da ilusão, sou a ânsia da vida que deseja sentir e viver apenas pelos sentidos, pelos avessos dos sentidos, até a loucura cósmica de ser tudo em apenas um...

... que perdoe-me minha razão...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 16/11/2016
Reeditado em 06/06/2023
Código do texto: T5825575
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.