O PREÇO DE NÃO SABER

Presente desde o inicio da busca da humanidade por respostas, o desconhecido desperta curiosidade e o intenso prazer de se conhecer e poder avançar. Inúmeras tentativas de explica-lo falharam e, assim, a partir dessas falhas, foi possível moldar a escadaria do conhecimento. Não se sabe qual o final desta longínqua escadaria, talvez não exista apenas um final ou, então, não haja final. O desconhecido é intrigante e assustador em todos os seus aspectos.

Toda pessoa já foi, em algum momento de sua vida, compelida a fazer algo por pura curiosidade. Exemplo disso é a compulsão de quase toda criança de colocar o dedo no buraco da tomada quando a vê ou, até mesmo, de pegar algo do chão e levar direto à boca. O espírito explorador das crianças é fantástico, sua curiosidade é facilmente despertada por qualquer coisa – o que é completamente normal, uma vez que a criança está, a cada dia, desvendando sua própria realidade. Por outro lado, o medo e o receio do desconhecido é algo que acompanha o ser humano desde os seus primórdios. Este medo foi o ponto de partida para a criação de uma miríade de mitologias, lendas e religiões. Há uma pergunta pertinente a se fazer: porque? Porque o desconhecido levou nossa espécie à criação de explicações para tentar decifrá-lo? Bom, esta é uma questão simples de ser resolvida. Basta se colocar no lugar de seus ancestrais que, milhares de anos atrás, precisavam sobreviver e, para seguir com vida, precisavam ter um conhecimento mínimo do ambiente que os cercavam. Fenômenos de maior escala, tais como uma tempestade, um eclipse (lunar ou solar), o vento e até mesmo o céu noturno todo sarapintado de astros serviam de palco para as mais mirabolantes ideias dos nossos ancestrais. Não era nada difícil tentar explicar algum fenômeno conferindo-lhe alguma personificação; um animismo. Foram nossas primeiras tentativas de tentar explicar coisas que estavam além da nossa simples compreensão.

Imaginemos o seguinte cenário: milhões de anos atrás, um indivíduo (pertencente à nossa linhagem evolutiva) se encontra numa clareira e repentinamente ouve um barulho provindo das moitas situadas à sua direita. Este se depara com a seguinte escolha: se afastar do estranho barulho, pois pode se tratar de um predador ou uma ameaça em potencial ou simplesmente deixar se levar pela sua curiosidade e acabar descobrindo que realmente era um predador. O resultado desses eventos é a seleção de indivíduos que tinham um maior ou menor temor ao desconhecido. Pode-se concluir que esses indivíduos eram, em maiores números, os que sobreviviam e que consequentemente se reproduziam mais vezes, passando essa característica adiante.

Os conhecimentos matemáticos, astronômicos e diversas outras áreas do conhecimento, durante a antiguidade (período que se estende desde a invenção da escrita, aproximadamente entre 4000 a.C. a 3500 a.C, até a queda do Império Romano do Ocidente, por volta de 476 d.C.), avançaram significativamente, entretanto, com a ascensão do cristianismo, todo esse conhecimento viria a cair em obscuridade. Essa estagnação se alastrou entre 600 a 700 anos. A ideia de um ou mais deuses que tapassem toda e qualquer fenda na esfera do conhecimento humano da época era muito comum e muito mais simples de ser aceita do que uma explicação matemática, por exemplo – o famoso deus das lacunas. Obviamente, esse conceito de deus fora utilizada como pretexto para as mais diversas atrocidades – desde guerras para proclamar territórios sagrados até a caça às bruxas. É curioso notar que o medo daquilo que desconhecemos pode ser facilmente utilizado como ferramenta para controlar uma população – a Santa inquisição que o diga. Ser curioso? Nem pensar. E se questionar? Pior ainda. Inclusive, aqui cabe um fato curioso. Os gatos eram caçados pela igreja católica na idade média por serem considerados seres das trevas e, em função disso, sua população foi brutalmente reduzida. Essa redução conferiu, assim, maior espaço para a proliferação da população de ratos, principalmente de ratos provindos do oriente, chegando à Europa por meio de navios de comércio, e que estavam contaminados com a bactéria da peste bubônica. Os ratos também pereciam com a doença, entretanto, como suas pulgas precisavam continuar se alimentando, estas acabavam por propagar a peste através de suas picadas. A peste se alastrou rapidamente, matando um terço da população europeia. Este é um belo exemplo de como o medo, a ignorância e a superstição podem provocar uma catástrofe.

Não estou, por meio deste texto, dizendo que ser adepto de alguma religião seja errado, o que quero dizer aqui é para que estudem, pensem e questionem. Crer na existência de divindades ou até mesmo possuir sua própria crença não é algo ruim, o problema em questão é: o quanto você dosa suas crenças no seu dia-a-dia? O preço da ignorância pode se tornar pesado e somente percebermos tarde demais. Uma das muitas frases de Isaac Asimov se encaixa bem a este cenário: se o conhecimento cria problemas, não será através da ignorância que iremos resolvê-los. Não temam o desconhecido ao ponto de evitá-lo, tentem entendê-lo. A partir deste entendimento coisas como o racismo, a homofobia, o etnocentrismo e demais descriminações e preconceitos se tornam conceitos tolos e sem fundamento.

A insaciável busca pelo saber. Quem passa a trilhar muito intensamente este caminho, como inúmeras pessoas o fizeram ao longo da história, sente com maior frequência suas energias drenadas pelo desânimo e pela tristeza – talvez um sentimento desespero. De fato, uma vida humana se mostra insuficiente para compreender o majestoso arcabouço do que há para se conhecer e explorar. Porque, então, buscar algo que lhe trará sofrimento? O mundo de cada um se resume ao tamanho de seu saber, já dizia Einstein. Então, porque apenas se contentar em olhar apenas pelo buraco da fechadura se você pode abrir a porta e mergulhar fundo na realidade que sua existência proporciona?

Ollenocis
Enviado por Ollenocis em 13/11/2016
Código do texto: T5821794
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