Profissional: vivendo de manias
Às vezes, eu me perco como um profissional. Na verdade, não nasci assim. Esse tipo de personagem me incomoda, mesmo sendo necessário. Sou uma espécie de criado mudo. Dentro desse corpo, volta e meia acabo soltando a minha fera, que pode ser o meu abismo.
Em minha pequena mesa, isolado, meus traços parecem moldados. O sorriso fica plástico; os braços costurados; os olhos controlados e secos. Um ser a vácuo. Um pássaro preso numa jaula com as asas cortadas. É uma sensação vergonhosa em dizer "boa tarde".
Um dia ou outro, eu solto a fera. Vivo por aí me colocando dentro das almas que entram pela porta. Tive que improvisar minhas asinhas. Quando tento levantar o voo para ajudar, baladeiras me cercam no meio do ar, quebrando tudo que me resta.
Eu vou caindo pelo chão áspero com meu coração, enrolado de cicatrizes, fazendo novas feridas. Vou vivendo de manias de ser um pássaro; de querer voar e tirar a minha capa.