TICTACTIZANDO
Estou deitada, minha visão é preenchida apenas pelo meu branco teto, desfocado e manchado pela penumbra do meu quarto. Meu corpo todo dói como se eu tivesse corrido através de toda Belém-Brasília, mas não, fisicamente tenho me esforçado pouco. Passo meus dias prostrada, da cozinha para o quarto, do quarto para a cozinha.
Sinto meus osso ranger, enquanto o pequeno relógio azul sobre a escrivaninha trabalha insensatamente e o ''tic e tac'' que passava despercebido, agora preenche o ambiente rasgando o silêncio, perturbando a paz que eu não tenho ultimamente. Essa engenhoca mecânica está ''tictaczinando'' dentro dos meus miolos. Não sou nenhuma escritora renomada habilitada para criar neologismo, mas ''tictacziar'' é a única coisa que esse maldito relógio tem feito, além é claro de esvaziar minha existência com seus ágeis ponteiros que me levam embora cada segundo de vida. Aquela sucata de metal comprada inocentemente, em um camelô, com o objetivo de organizar meu dia e minhas tarefas, tem desempenhado mais funções que eu, é mais útil e muito mais enérgico do que eu.
Agora éramos só nos dois, na companhia um do outro e meu único desejo era que o tempo parasse.