Pensamentos do poeta solitário
Conformei-me com o vento sonolento, naquele dia de frio intenso. Que na verdade era um frio que me aquecia. O primeiro pensamento estranho daquele dia.
Mergulhado na preguiça de um sonho calorento. Admiti estar feliz naquela manhã em que seu beijo lembrei. E em todas as manhãs seguintes que seu beijo foi meu melhor pensamento. Despindo todas as graças que encontrei, procurei minhas roupas sujas de tédio. Não as localizei
Fiz de uma pedra meu travesseiro de consciência tranquila. Que bom dormir com a sensação que tudo foi feito. Lavei minha alma como a de um menino em euforia. Isso tudo passou pela minha cabeça depois de tomar banho naquele rio de água cristalina.
Fiz as contas de quantas borboletas pousaram ao meu lado, sem se assustarem. Talvez nunca nenhuma outra pessoa delas tão perto chegou. E se chegaram, o que fizeram para que elas estivessem tão próximas a mim? Perdi as contas no meio da viagem.
Repousei na sombra pela manhã toda que me foi permitido. Ah, que bela maneira de sentir o afago do espírito. Jovem, suave e tranquilo. Os pássaros cantavam todas as músicas que nem se tinha ouvido. Se ouviram, ninguém me contou. Ouvi até a nostálgica canção do beija-flor.
Na mágica de um dia produtivo de pensamentos livres, escolhi os melhores para escrever. Naquele cenário perfeito um galho e a terra foram meus instrumentos de poesia. Todos meus pensamentos brigando para sobreviver ao vento. Pura tolice. O melhor de tudo é que nenhum pensamento meu tinha a comum esquisitice.
Nos raios da tarde percebi que já estava com fome de gente. Fome de sentir o barulho e o calor que só os outros podem produzir. Ficar sozinho é bom. Mas ficar sozinho é inconveniente. A solidão é algo de livre escolha. A solidão era uma companhia insistente.
No êxtase do despertar para a realidade encontrei minhas roupas limpas. Que ironia saber que elas estavam embaixo da pedra que repousei. Na deliciosa tarde de um nu artístico, me vesti com os melhores pensamentos que inventei.
Fixei todos os bons pensamentos que ali eu construí. Como a felicidade conhecida.
Voltando para minha estrada com uma confiança ímpar. E as roupas renovadas com uma claridade límpida.
Pensando que amanhã novamente voltaria aqui. Amanhã. Semana que vem. Para toda a vida...