O Retrato de Dorian Gray e o medo de envelhecer.

Falta menos de um mês para o meu aniversário. Esse ano me aproximo ainda mais dos 30 anos e isso me fez refletir sobre minha vida…

No início do ano assisti a um episódio do seriado The Librarians (muito recomendado por ter uma proposta muito interessante, pelo menos para os amantes da literatura) que traz o personagem Dorian Gray a vida. Ele sai do livro e no mundo moderno a maneira que ele encontrou para se manter jovem foi promover festas pegar as selfies que as pessoas tiravam e montar um grande retrato de si mesmo com as fotos. Como numa espécie de colagem de pequenos rostos jovens transformando o seu.

Achei fascinante a reflexão que o episódio trazia e fiquei curiosa para ler O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde. É de fato uma bela obra literária que reúne uma boa história e uma escrita impecável. A história de Gray me fez pensar sobre a necessidade da beleza juvenil e o medo de envelhecer somado as reflexões pré aniversário.

A juventude pode ser de fato muito sedutora. Quem nunca desejou secretamente ser eternamente jovem fisicamente? (Ainda mais as vésperas do aniversário que te aproxima dos 30 anos de idade). O Gray do seriado se alimenta de selfies na “melhor idade” onde os rostos lisos não contam por onde estivemos, em que nossos medos ainda são pequenos nos permitindo arriscar e até cometer excessos: muito sexo porque o corpo pede e pode, sentimento não é muito conveniente aos 20 e poucos anos; muito álcool porque amanhã não importa, a vida é agora. A juventude passa e perpassa pelos olhares vazios, mas cheios de vida porque a beleza é tão profunda que poderia ser eternizada.

Gray eterniza seu corpo e no quadro vão ficando as marcas da intensidade, da inconsequência até que mesmo diante da mais bela face seu amigo não o reconhece.... Daí me questiono quando começou afinal esse medo de carregarmos em nossa face as escolhas que fizemos? Nossas rugas não seriam os caminhos que percorremos desde a infância? Traços repetidos de escolhas repetidas, traços inacabados de descobertas ainda por fazer, traços de tristeza, alegria e escolhas...

Por que temos medo de olhar no espelho aos 30? Aos 40? Por que ao sinal do primeiro traço o primeiro desejo é paralisa-lo com agulhas? Por que temos tanto medo de celebrar o presente? O passado conforta o futuro esperança e o presente paralisa no medo e na ilusão da existência de perfeição.

Hoje eu fiz uma escolha e acho que gerei outro traço no canto da minha boca enquanto fazia caretas refletindo. Decidi que quero olhar para ao meu espelho, apagar as minhas velhinhas e quando meus traços forem refletidos quero ter a certeza de que tudo que vivi valeu a pena e merece ser celebrado a cada estação e a cada traço...

Menina Beijaflor
Enviado por Menina Beijaflor em 03/11/2016
Reeditado em 20/11/2016
Código do texto: T5811665
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