A grande viagem

A GRANDE VIAGEM

Como grande uma vigem, de uma lágrima, como a terra amada, se desliza e caminha, se move além de nossos desejos e constrói um imenso redemoinho abstrato junto ao mar, martiriza minhas paixões em torno da vida e a faz crescer como sonhos reais, que caminha lentamente em direção ao oceano infinito, que abrigará minhas águas descendentes das nascentes de meu começo, de meu nascimento.

Como uma lágrima.

Mergulharão essas águas no seio da Terra e viajarão com ela o infinito, como espaços oriundos de mim, em águas, em destinos e em paixões.

Em todas essas paixões vividas a mais límpida é ter tido o horizonte permanentemente preso a minha visão e aos passos dados, firmes muitas vezes, temblantes muitas outras, estivessem eles presos permanentemente em minha existência temporária neste Mundo, ou permanecessem eles sempre dirigidos por minha consciência, para que me outorgassem a paz e a certeza de que ao fim do caminho o encontro inevitável com a morte, seria apenas a passagem que nos colocará avante, uma outra vez a viver mais uma nova existência.

Não duvidemos, caminhemos. Não nos surpreendamos, sigamos e deixemos para trás as desilusões profundas que os passos já dados nos trouxeram através do passado que condizentemente ficarão na memória, já quase difusa, que haveremos inevitavelmente de esquecer.

Uma vez despidos das imagens reais, ou melhor, das imagens relativas da existência metafórica, auditiva nas palavras simples de comunicação, da existência carregada e pesada da gravidade de Newton, da dor física e da dor social produzida pelos homens, nos restará crer e acreditar que a evolução, o caminho e a viagem, não se encontra nos meios físicos e sim nos meios espirituais, que poderão conduzir-nos ao infinito, fazer navegar nossas atribulações míticas, e fazê-las reais ao olhar as estrelas enquanto navegamos no espaço, emitindo luzes naquele lugar infinito.

Será que seremos mais complacentes com nossos semelhantes, e iremos pensando neles durante a travessia, nesta curta viagem a que, sozinhos, estaremos atrelados?

Tal vez, no princípio incipiente e distante das lembranças das origens, apenas imagens, já em desfazimento, restarão como nebulosas ao perder as cores e os contornos que perambulam vagamente a medida dos passos no tempo e a caminho da perseguição constante do objetivo final que nos faz caminhar, caminhar e caminhar, construindo direcionamentos, e edificando a certeza do berço, no qual descansarão nossas almas e que serão apenas balanços do Universo.

Não estamos sozinhos, ao lado existem e coexistem semelhantes.

Voar eternamente sem gravidade, olhando as estrelas que compõe o firmamento e a existência infinita do Universo, será nossa constância.

Não haverão janelas, é claro, pois a levitação da viagem será mais contemplativa na vivência do espaço e não na fixação das imagens à medida que a velocidade dos fatos e ocorrências se amontoam como memórias acumuladas, coloridas, vívidas e atemporais. Rápidas, muito rápidas, ao ponto que o tempo prolongado se repete em segundos, não mais na mente, mas na consciência que acompanha naquela velocidade a passagem de planetas, estrelas e cometas que nos acompanham e fazem parte daquele sonho que viaja sem bagagem.

Daquela consciência em mutação.

O Universo apenas faz parte daquele movimento, como as folhas de outono de outrora, na Terra faziam parte da paisagem.

Caíam tapando suas sementes para o rebroto, para a continuidade de si mesmo, multiplicando-se ante a vida.

Borboletas multicoloridas passarão dançando diante nós, após emergirem de seus casulos, e suas asas de tão majestosas voarão lado a lado desprendendo cores e misturando matizes; muitos matizes, que não apenas terão a capacidade de rebulir o grande redemoinho em que estaremos envolvidos, como também exalarão aromas misturados a lembranças que nos farão ter a memória abstrata da vida, das faces dos personagens que fizeram parte de nossos caminhos, construindo imagens das pessoas que amamos, nos cavaletes dos pintores, que em suas pinceladas farão surgir os lugares que passamos, com as luzes dos dias de sol, e com as sombras dos de tormentas, dos mares e dos ares, das cidades em que vivemos, e principalmente haverá de fazer-nos ver, que ainda assim não poderemos esquece-las, pois estarão voando eternamente ao nosso lado.

Apenas vivê-las novamente, nos sonhos novos.

Criarão-se novos momentos.

Ao lembrá-los, os momentos e personagens nos farão brotar, a grande lágrima, da terra amada novamente...

De novo voltaremos, andaremos e novamente construiremos caminhos, voltando das estrelas, depois de haver navegado o Infinito e ter visto quantidades de sistemas solares, planetas, cheirado os aromas cósmicos e saído de buracos negros..., derrubaremos as nossas lágrimas que construirão oceanos e nos trarão de volta.

Do velho e do antigo Eu, remanescente em nossa memória, veremos as borboletas.

Novamente as cores abrirão nossos olhos, em um novo começo.

Novamente haverá espaços para lágrimas.

João Vicente Goulart

João Vicente Goulart
Enviado por João Vicente Goulart em 30/10/2016
Reeditado em 24/02/2017
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