Confissão

Tenho problemas em ouvir. A audição sempre foi perfeita, mas o ouvir pra mim é uma prática dificílima.

Para um som existir, algo precisa vibrar. Uma corda vocal ou de violão serve.

Mas muitas vezes elas acabam vibrando só durante o caminho entre a boca do outro e o meu ouvido. Chegam no meu ouvido e morrem, mudas.

É esta mania horrenda que tenho de transformar conversas em monólogos. Enquanto o outro fala, vou formulando uma opinião sobre e consequentemente pensando numa resposta. Nisso, a vibração é mero zumbido. Estou ouvindo só minha voz. Ignorando a fala do outro.

Eu, defensora de que as opiniões todas são válidas e frutos de vidas e visões diferentes, acabo despojando o discurso alheio assim, fácil, inconsciente.

O discurso do outro acaba perdendo o significado, a finalidade, a riqueza, o caminho, o som. Vira balãozinho em branco. Eco em sala vazia.

Devo fazer uma prece aqui: Deus, me ajude a ouvir. Ouvir mesmo, em todos os sentidos. Esquecer da minha hora de falar de tão fascinada na fala do outro...ouvir tão atentamente como que preparada para uma revelação.

Não me deixe assim, colocando as pessoas no mudo...

Defendendo o discurso mas tapando-lhe a boca...