Navio: A vida por um só
Eu tenho um navio. Não um navio qualquer. É navio imenso que, ao longo dos anos, foi crescendo e ficando espaçoso. Os visitantes ficam impressionados que a magnitude do navio. Durante anos, muitos navegaram nele. O comandante, no caso eu, permite o acesso de todos nas paradas que eu fazia. Hoje, esse navio ter apenas um tripulante. Uma pessoa só, eu.
"Nossa, que pessoa solitária"; "Tu estás se isolando". Não. Isso está longe de ser um isolamento. No decorrer de minha vida, sempre me preocupei tanto em ter um barco cheio de pessoas das mais variados tipos. Tinha momentos, que eu procurava todas as elas e me entregava de corpo e alma para que se sentisse em casa. Minha cabine viva sendo visitada por todos e uns que até mexiam no comando. Nem toda recíproca é original. Às vezes, nos cobramos em querer se recompensados e perdemos tempo com isso. Isso nos machuca e não sejamos hipócritas.
Aos poucos, eu fui vendo que não podia mais manter as pessoas. Fechei a minha cabine. Nas paradas que eu faço, todos podem entrar e conhecer o navio. Não há problema em entrar. Ao contrário, até convido. Ao final do dia, todos são obrigados a se retirar. Lógico, tem uns e outros que gostam de ficar até mais tarde, mas logo depois informo que o navio precisa embarcar. Tem vezes que procuro e faço minha parte, mas não faço mais aquela questão que visite. Se quiser, estar aberto e se não quiser, apenas viva tua vida.
Do meu navio, todos podem entrar, mas eu irei navegar sozinho. Tem dias que fico olhando os mares e vendo meus olhos escorrerem, dando mais volume ao oceano. Faz parte. Sou humano. E o pôr-do-sol que era minha bússola, agora nem sei mais por onde estou caminhando. Que sejamos felizes nesses espectros de uma vida só.