Quem disse que seria fácil?

No instante em que ouvi a porta batendo e vi a sua silhueta se afastando através dela, eu soube. O vento frio que soprou naquele maldito instante, percorrendo meu corpo e me fazendo estremecer, me trouxe a certeza. Seu olhar inexpressivo, a despedida vazia, as coisas por dizer, só confirmaram o que eu tanto temia. Então o medo cedeu lugar à vontade de pedir que ficasse, o orgulho lentamente querendo perder seu espaço, mas a certeza,... ah, aquela maldita certeza ainda gritava silenciosamente dentro de mim. E eu soube, desde os primeiros lentos minutos quando a noite deu lugar ao dia, eu sabia. Quis segurar suas mãos em uma inútil tentativa de ainda tentar manter uma parte do seu corpo presa a mim, só que me esqueci de que o principal que havia em você já havia partido há tempos. Algo em você já havia ido, deixando em seu lugar um corpo vazio totalmente desprovido de qualquer tipo de sentimento. E da pior forma possível eu soube: de nada vale amar por ambas as partes, é um sentimento tão inútil quanto a tentativa de tentar convencer a ficar alguém que já se encontra junto a porta com as malas prontas. E aprendi que nada deve (e pode) ser feito a não ser deixar ir. Deixar partir mesmo que naquele exato instante fosse possível ouvir os restos dos sentimentos que havia no outro se estilhaçando, enquanto os seus ainda permanecem intactos. Silenciar mesmo sabendo que ainda possui vários argumentos para que a partida não se concretize. Mas então aprendi que palavras não são nada quando o outro lado também já não está disposto a ouvir. A porta enfim se fecha deixando um rastro vago de perfume, rancor, e resquícios daquilo que já foi um amor. A porta se fecha, a linha tênue que até então os unia enfim se rompe, e para quem fica observando a porta sendo fechada, restam somente as dúvidas e ao mesmo tempo a certeza de que nada poderá ser novamente igual. E o que mais intriga é ter pensado que de alguma forma isso seria fácil.

Débora Brandão
Enviado por Débora Brandão em 18/10/2016
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