TRIBUNAL

A noite é o conto dos apaixonados, a maldição dos solitários, a visão lirica de um encontro, a despedida sentida de um sonho desfeito. Quem sonha uma paixão esqueça os limites da dor de um canto vazio, ouvindo as moscas cantarem o que seria uma marcha rancho em hora demasiadamente imprópria. Não se pode poetizar a morte, tão pouco embeleza-la num verso qualquer, mas desejá-la é sinal de que essa noite foi feita para ser dormida. O dia logo chega, a vida repetida, nos conta as mesmas piadas, mas com ouvidos bem abertos, uma graça há de aparecer nessa maldita falta de amor. O mundo continuar a nos consumir, fazendo-nos consumir nossa própria desgraça, nossos desejos aparecem expostos em telas gigantes de TV, e o que nos era desconhecido, virou valor imprescindível, a verdadeira alegria de viver. A noite chega entre a bebida e o sono, e entre um e outro, uma ultima volta de carro e a amarga lembrança da menina que se foi arremessada no meio da estrada. Cremem os corpos, chorem a saudade, mas a hipocrisia de se levar pelo egoísmo do próprio ego, nos levará a pensar nas cinzas como ventos que a tarde leva. A solidão nos refaz,quando não nos traz diante das nossas próprias frustrações. Tome um remédio qualquer e durma o sono dos justos até acordar diante do tribunal da própria consciência.