NOUTRO DIA

No quarto que durmo, uma alforria desenhada em forma de prisão, eu faço do meu canto uma derrota mesmo que a vitória seja a verdade escondida por de trás da porta. O tempo, indiferente, negocia meu final, seja lá qual for a forma, seja eu bom ou mau. Na verdade sou, como todo mundo, pela metade, um pouco de de céu um pouco de terra, não hei de ser julgado pelas fraquezas, mas pela consciência, principalmente pela omissão. Das alegrias eu guardo os sorrisos que causei, da tristeza, a minha própria, um estresse que margeia a loucura, limite tênue. Uma pena que as águas correm pelos rios e não podemos tocar duas vezes o mesmo bocado, vão-se, levando a incerteza daquele momento, vão-se sem que eu possa tentar novamente. A vida e o tempo, amigos comuns, cúmplices da incerteza, aliados do medo ao mesmo tempo, horizonte buscado no mais íntimo dos desejos. O que me sobrará senão uma história e um punhado de gente lembrando que um dia eu fui eterno, noutro dia, uma saudade.