Avenidas
Subir uma das maiores ladeiras de ligação com o Ibirapuera com a Avenida Paulista me fez refletir diversas coisas, desde as diferenças dos carros até o quesito da segurança reforçada nos condomínios.
A festa rolava para uma criança em um prédio, e eu não via criança alguma do lado de fora correndo, porém adultos murmurando e os cigarros indicando que minutos foram perdidos. Câmeras e olhares perseguem meus passos e eu não sou uma celebridade, a cada passo avisto uma loja bem decorada, roupas com valores altos com o tecido que foi utilizado para a blusa de 20 reais na Marisa que minha mãe comprou no mês passado, me pergunto se há segredo algum por debaixo dos panos finos, uma passagem secreta ou um brinde para um jantar em Dubai, porém a vendedora me diz que é a peça mais requisitada e vendida.
Demora muito para alcançar mercados se eu for andando, você apenas olha ao seu redor e encontra donos com seus cachorros, o cachorro se torna um acessório para ter desculpa para sair de casa, afinal sem ele como você sairia e para que precisaria sair? Seu carro está estacionado na sua vaga coberta e o dinheiro no bolso para caso precisar de um UBER, os aplicativos no celular instalados se sentir fome ou todos os restaurantes e fast-foods atendem delivery em seu bairro.
Quando volto para a realidade, ou apenas chego na minha casa que fica distante deste conto, eu vejo apenas portas fechadas por ser um feriado, bares com pessoas lastimando o resto de vida que possuem e a fogueira para esquentar a madrugada de quem não tem sono.
O shopping que você frequenta tem diversidade, cores, belezas de diferentes formas, porém quanto mais longe você viaja, mais rígida fica a sua realidade, pessoas que pedem comida se parecem com você, as pessoas ao redor são estranhos, o segurança tenta manter a "paz" infinita do local luxuoso tentando expulsar os pobres, pedindo para que pessoas não retirem a sua carteira do bolso para dar comida a eles, afinal é um desrespeito total você estar comendo sua picanha quando alguém lhe pede um pedaço.
Eu sonho com um apartamento bonito, com uma cama macia e com uma piscina livre para me banhar em dias ensolarados, como também sonho que minha vestimenta não conduza a dizer que não tenho dinheiro para pagar o preço, ou minha cor mostre que eu não sou o típico cliente que frequenta aquele espaço.
Gosto de ser chamado de senhor, de que pessoas me mostrem coisas caras, que o diamante que colocam na minha mão seja de bom grado e que eu possa ver na lupa como qualquer consumidor, eu sei que não irei comprar, eu sei que posso aproveitar aquele dinheiro de outra forma, mas eu adoraria tentar ser apenas alguém normal no cotidiano de pessoas de Moema, porém o meu normal é ter os cupons para comer mais barato no McDonald's ou me lambuzar de barbecue enquanto como um balde de frango no KFC, comer com as mãos sem ver olhares de reprovação e ser feliz por vim de um local periférico e bonito da Zona Sul de São Paulo.