Maria e suas crises
Maria parou, respirou e analisou. Pura matemática. Seguiu estes três passos, a fim de chegar a um resultado. Olhou-se no espelho, no fundo dos seus olhos, no interior da sua alma. Estaria ela fazendo sua vida valer a pena? Estaria dando amor, de fato, não apenas com palavras? Ela sabia a resposta. Era sim. Ela tinha amor, dava amor. Mas faltava-lhe receber amor. Claro, obtinha o dos pais e avós e gozava dessa certeza, mas não era o suficiente. Avistou no espelho uma alma amarga, que carecia de esperança. Alma que foi dilacerando-se conforme sofria suas punhaladas. Desde sempre muito observadora, Maria, calada parecia, calada era. Sua mente incansável analisava cada centímetro do que lhe rodeava, principalmente as pessoas. Maria identificaria seu maior desejo, como pessoa, em pouco tempo de convivência. Ela era assim. Ela é assim. Essa observância a fez amarga. Ela percebeu o quão mesquinhas são as pessoas e o quão decepcionante é viver. Sua alma era apunhalada a cada pensamento que Maria tinha sobre o mundo. Crises existenciais eram parte do menu da sua vida, e era o que mais saía. E sua alma sofria. Ela perguntava-se quando havia deixado o mundo lhe ferir de tal forma. Tentou segurar a rosa, mas sua visão não avistou os espinhos, e se feriu. Entrou na praia para nadar, mas haviam tubarões. Sabia que deveria procurar viver o que há de melhor, ligar o dane-se e ganhar o mundo. Os amigos leais estarão lá. Eles estavam, e eles estão. Mas lhe afligia saber dos males do mundo. Uma psicóloga demoraria séculos para liberar Maria de um tratamento. Corpo de jovem, mente de idoso. Aliás, corpo de jovem em partes. Seu pulmão, de jovem, não tinha nada. Sucumbiu ao hábito da avó de fumar. Fumava clandestinamente, com fim de esquecer os danos da alma e, em troca, danificava seu corpo. Parecia uma troca justa, não? Era o alimento da alma noite e dia. <br>
Durante sua autoanálise, chegou a um resultado. Embora não a surpreendesse, sabia que precisava de ajuda e, paradoxalmente, essa ajuda só quem a daria era o mundo. Um resultado abaixo de 0. Negativo.