É preciso perdoar-se

A culpa mata aos poucos, mesmo que o corpo continue vivo. Eu sei do que estou falando, acredite, eu sei.

Poderia enumerar em poucos minutos, no mínimo cem coisas que fiz no passado e que gostaria de apagar. Deletar da minha história como os e-mails da “Americanas “que lotam minha caixa de entrada e com alguns cliques somem sem deixar vestígios.

Depois de muito bater a cabeça, pode parecer absurdo, mas, falando em erros cometidos nesse filme antigo chamado “Passado” a gente aprende que é mais fácil perdoar aos outros a perdoar a si mesmo.

Você perdoa aquele “falso” amigo que espalhou seus segredos quebrando sua confiança, perdoa aquele parente chato que te fez pagar o maior mico na frente do seu primeiro namorado e você quis cavar um buraco no chão e sumir, perdoa também aquele vizinho que nunca devolveu a bola que caiu no quintal e ferrou a última partida de Bet’s, perdoa aquele “namoradinho” que na adolescência escolheu a loira do segundo ano só por que ela tinha mais peitos que você.

Com o passar dos anos até a pior das mágoas é perdoada. Você perdoa o pai ausente responsável pelo nó na garganta que aos vintes e poucos anos ainda sente ao ver outros pais no dia-a-dia ou na TV, perdoa também o companheiro com quem dividiu a cama e a vida, e que posteriormente, veio a te ferir tão profundamente que te deixou assim, vestida numa armadura, tentando fazer-se de fria, escondendo sempre o que sente.

O tempo passa, e você perdoa aqueles que partiram seu coração em milhões de caquinhos, que talvez você nunca consiga colar, mesmo que essas pessoas jamais sejam capazes de pedir o teu perdão.

Você, mesmo que involuntariamente, perdoa ao não olhar para trás com rancor. Não estou dizendo que você vai esquecer, não é isso, só estou dizendo que você vai lembrar sem sentir arder o peito tão forte que até o ar faz-se difícil de respirar.

A coisa mais difícil dessa vida, é “perdoar-se”.

É perdoar-se pelo que se desfez no tempo pelo seu orgulho, esse que a vida te ensinou a engolir. É perdoar-se pelas pessoas que foram embora sem ouvir de você, o quanto desejava que elas ficassem.

É perdoar-se pelos tais “cabelos brancos” que por sua rebeldia de adolescente besta causou em sua mãe, essa que nessas alturas, você já aprendeu que é única pessoa com quem você verdadeiramente poderá contar sempre.

É perdoar-se pela mágoa causada em pessoas que foram abrigo nos dias mais terríveis, e não sabendo o quanto doeria a culpa, você não hesitou em ferir.

Difícil é abandonar a mala carregada de culpa pela ausência causada um filho, independente do quanto você tenha tentado acertar.

Difícil mesmo é não sentir a culpa rasgando o peito pelas escolhas erradas que causaram danos, muitas vezes irreversíveis, as pessoas que você queria bem.

Difícil é fechar os olhos sem que a culpa dos teus desacertos venham a te sufocar na cama tirando-te o sono, a alegria e a força, travando uma batalha que assim como em "Dom Quixote", é contra um dragão que só você vê.

Difícil é manter a sanidade, a compostura e o auto controle quando a tristeza já tornou-se um vício, e o único alivio que encontra, é aquele vendido em caixinhas com tarja preta ou em carteiras de Carlton Blend.

Sei o quanto é difícil manter-se forte quando se é dominado pela culpa, esse sentimento com aparência de “fim da linha” e peso de uma bigorna.

E é por isso que precisamos perdoar.

Acreditar com todo o coração que enquanto respirarmos haverá uma chance, que sempre haverá um possível recomeço, uma nova versão de nós mesmos a ser recriada a qualquer momento e que é nosso dever fazer dessa participação tão curta e imprevisível nesse ciclo indecifrável chamado “vida” o melhor que pudermos.

Somente quando cortamos as amarras com o passado é que conseguimos ir em frente. É preciso aprender a conviver com os desacertos, pois, somados aos acertos, fazem ser quem somos.

Então, este é o meu conselho, perdoe a única pessoa que pode te salvar e que será sempre a mais importante da sua vida, VOCÊ MESMA.