Necessidades

Lá fora cai uma chuva mansa, o fone no ouvido toca Gadú e Iorc intermitentemente, algumas pessoas se ousam a interromper minha introspecção, quando eu só queria minha própria companhia, agradável como só ela é. Por um momento vislumbrei uma casa de varanda, uma taça de vinho, um livro, liberdade e música... Coisas extremamente necessárias à minha sobrevivência. Quase que num sobressalto me recordei de outra necessidade inerente a pessoa que me tornei, inteiramente movida a mudanças, ao desejo de não pertencer a nenhum lugar, as estradas me atraem tanto quanto o vinho, os livros, a liberdade e a música, elas me remetem as inúmeras possibilidades que a vida nos apresenta, viajar é trocar a roupa da alma, percebo que a minha precisa ser trocada com certa urgência. Dentre tantas necessidades e urgências, tenho uma necessidade mor, essa mania absurda de escrever sobre tudo e todos. Engraçado que quem vê de fora, acha bonitinho, se identifica, compartilha... Mas, só quem escreve sabe que os textos são frutos dos nossos infernos, tão nossos... Os melhores textos são frutos de reflexões pesadas, que após a convivência tomam forma. Escrevemos para expelir o que nos atormenta, o que nos sufoca. Por trás de cada texto bonito que você lê, existe um escritor ferido ou no mínimo confuso, sem descartar a possibilidade de que a cada 100, somente um, escreve em momentos de absurda felicidade. Hoje eu não me encontro triste ou ferida, nem tampouco absurdamente feliz, mas tomada por completa nostalgia. Viver em uma cidade de sol predominante, por vezes furta minha inspiração, mas hoje a chuva cai lá fora e eu após um longo período de deserto, senti necessidade de rascunhar. Necessidades... Tão minhas!

Mariany Mendes
Enviado por Mariany Mendes em 04/10/2016
Código do texto: T5780919
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