Como ser menos burro

Também já fui tolo. Incapaz de compreender os valores que orientavam minhas escolhas, tomava como óbvio o que era relativo. Exigia a mesma perspectiva e conhecimento aos que não compartilhavam as mesmas vivências e oportunidades que eu.

Não conseguia e nem me interessava pelo contexto de onde o outro falava e explicava suas ações e preferências. Eu usava um óculos azul e tudo eram tons diferentes de azuis. E pior, eu tirava estes óculos e continuava vendo tudo em tons de azuis e estava cego para outras cores.

Eu achava tão obvio o que pensava e o que acreditava que não me dava nem ao menos o trabalho de me questionar ou de aprofundar as razões que me faziam acreditar.

Eu simplesmente achava absurdo ter que explicar minhas posições, achava inadmissível colocá-las em questão. Então tomava como burros e idiotas os que pensavam diferente de mim. Assim como aqueles que me exigiam fundamentos e argumentos para aceitarem aquilo que a eles tentava impor.

Eu discriminava, ofendia e evitava aqueles que me exigiam as razões. Aqueles que me questionavam e não aceitavam de pronto minhas ideias e argumentos eram evitados por mim. Eu os ofendia, caluniava e difamavam para que não só eu, mas outras pessoas não tivessem contato com a heresia e a blasfêmia de pensar em oposição ao que eu acreditava ser a verdade.

Eu acreditava que meu minúsculo pensamento, para mim tão grande e vasto, cobria todo o universo conhecido e desconhecido. E dele proferia minhas verdades e condenava aqueles incapazes e insensíveis a sabedoria universal que havia alcançado.

Eu era tão burro, mas tão burro que não conseguia perceber que outras formas de pensar e sentir são tão possíveis quanto legítimas. E que a minha era uma das inúmeras e incompletas versões deste mundo.

Eu era apequenado. O que me apequenava era acreditar que um homem poderia ser dono da verdade enquanto o que poderia me tornar sábio era a sensibilidade aos múltiplos mundos e possibilidades de ser e de ver este mundo.

A inteligência tem muito mais a ver com ser capaz de descobrir uma nova perspectiva sobre o mundo do que pela insistência numa única forma. Inteligência não tem a ver com persistir nas mesmas formas e ideias a todo custo e contra as mudanças, tem a ver com saber pensar sob um ângulo inusitado.

As soluções tem origem em ver diferente do habitual, do costumeiro e do tradicional. As pessoas insistindo numa única forma de ver e resolver problemas não demoram muito a encontrar seus limites.

Uma chave de fenda é muito útil e se aplica a diversas situações e resolve muitos problemas. Comece a usar a chave de fenda medir eletricidade, ou para derrubar uma árvore, e será considerado um idiota. A ferramenta não, mas o uso inadequado, inapropriado e insistente que faz dela.

Como me curei?

Me curei quando me vi fazendo o mesmo que meus adversários. Quando me vi condenando no outro o aquilo que eu mesmo fazia por um "bom motivo" ou "boa causa".

Me curei quando resolvi admitir prontamente os valores que defendo, sem pretender tê-los como óbvios e universalmente aceitos.

Me curei quando vi que ser dono da verdade nos exige um preço que somente os deuses poderiam arcar. Aqueles que conhecem o início e o fim, que criaram todas as criaturas, os senhores dos destino, os mestres do universo e os artífices do cosmos.

E quem eu era para pagar este preço?

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 03/10/2016
Código do texto: T5780287
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