A leitura inacabada

"Assim também foi quando o tempo ainda era nosso. Por várias outras vezes em outros tempos também assim foi. Onde estaria a faísca de discernimento? Onde podeira estar escondido o bom senso e aquele sentimento de que algo precisa ser mudado?"

Essas palavras não saem da minha cabeça. Elas latejam como enxaqueca que não passa. Apesar do meu orgulho idiota e da minha insistência em acreditar que sempre estou certo, lá no fundo sei que algo está errado, sei que talvez, lá no fundo, o problemas esteja em mim. Mas de que adianta saber se me falta coragem para assumir a culpa, porque é muito mais fácil apontar o dedo e acusar e extremamente difícil engolir o orgulho e assumir a responsabilidade dos meus atos.

[...]

É, realmente não é tarefa fácil desfazer uma ideia depois de pronta meu nobre, no entanto vamos ter que deixar para outro dia esse seu conflito existencial, pois já estou bem atrasado.

Ele pegou o marca página que estava no final do livro, colocou-o sobre a pagina em que encerrou sua leitura e fechou o livro rapidamente, colocou-o sobre o criado mudo feito em madeira nobre, todo entalhado com desenhos que lembravam flores e corações, um trabalho rustico com um toque de vintage, a madeira era avermelhada e o verniz a protegia do desgaste do tempo. Ele ficava logo ao lado da cama e sobre ele também repousava um lindo abajur que, com sua luz fraca, deixava o quarto com um clima sereno e de paz.

Ele levantou-se rapidamente, pegou a camisa, calçou os sapatos, pegou as chaves, o relógio e o celular, abriu a porta e logo após trancá-la, desceu correndo as escadarias. Não demorou muito até que desaparecesse por completo na primeira curva da escada.