JESUS E A AMIZADE
Essa semana minha filha Joyce de cinco anos me fez compreender algo que levaria uma vida inteira para descobrir.
Joyce brincava com meu sobrinho Will enquanto eu os observava camuflado deitado no sofá atrás de um livro. Joyce tagarelava sem parar contando a sua vida escolar. Falava da roupa e do jeito da “Prô”, a merenda que mais gostava, o menino que mais odiava enfim a Joyce resumia toda sua rotina semanal na escola. Will (também muito falante), retrucava com histórias de sua classe. Era ali um diálogo profundo e infantil. O diálogo acabou assim que minha cunhada colocou Will para tomar banho.
Naquele instante ficara Joyce e eu sozinhos na sala, então na minha inocência iniciei o mesmo assunto (esperando a mesma atenção), mas quando perguntei como era a sua escola, Joyce me respondeu: -Legal! Pai me dá uma coroa da Barbie?
Percebi naquele instante que eu era apenas pai e não amigo de minha filha. Toda intimidade que ela dividia com o Will, escondia de mim.
Fui levado através dessa atitude a refletir sobre meu relacionamento com Deus. Imaginei quantas vezes Deus desejava ouvir de mim algo de minha vida e eu respondia: Legal! Deus me dá uma casa?.
Fui mais profundo em minha meditação e lembrei-me de minhas atitudes como filho no passado. Quantas vezes meu pai me entregava uma quantia em dinheiro para comprar suprimentos no mercado, e, eu egoísta, ia pensando no troco que me sobraria e não nas coisas necessárias (para sobrevivência de minha família) que haveria de comprar.
Quantas vezes eu fui à igreja para trocar favores, onde eu cantava algumas canções com a mão estendida e a voz imposta, esperando ficar com o troco no amém final. Esquecia-me das coisas necessárias que o Senhor me dera e cobrava apenas meu troco; -Onde está Senhor o emprego na Multinacional?
Lembrei-me da cobrança que um amigo fez à sua filha que viera passar as Férias em sua casa, mas que ficava horas a brincar com uma amiga: - Você nem liga pra mim! Entra em casa pra me pedir dinheiro, passa o dia inteiro ao lado de sua amiga e ainda me cobra por não te levar ao Shopping!!! Dizia ele em tom de seriedade.
Alguns personagens bíblicos também tiveram seus momentos de filho e não de amigos, cito um em especial (Lc7:37-47):
Certa vez uma mulher entra desesperada e se prostra para adorar Jesus, e na volúpia do momento ela quebra o seu vaso de alabastro, rega os pés de Jesus com lágrimas e seca com os próprios cabelos. Simão enciumado em pensamento diz: “Se fosse profeta saberia que essa mulher é uma pecadora”. Simão teve uma atitude de filho quando vê o outro irmão se comportar mal na escola e de repente o mesmo tira um dez, e seu pai orgulhoso compra-lhe um mimo: - Eu sempre fui um bom aluno, e quem ganha a honra é ele”. Mas Jesus cobrando-lhe a intimidade diz: Entrei em tua casa e não lavastes o meu pé, porém essa mulher regou meus pés com lágrimas. Não me deste o ósculo, porém essa mulher não tem cessado de beijar os pés. Por isso digo-te que seus muitos pecados lhe são perdoado, porque muito amo; mas aquele a quem pouco é perdoado pouco ama”
Cristo através de sua divina inteligência sabia da dificuldade dos homens em compreender a intimidade que ele apresentava. Pois a relação humana entre pai e filho tinha limitações, nem todo filho dividia suas intimidades com seu pai.
Assim em JO 15 quando Cristo dava suas recomendações aos discípulos ele disse: “Vós sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando “.
Jesus estabelecia ali um sentimento de intimidade que não se limitava a um pedido, uma prece, mas abria espaço para troca de confidências.
Falar com Deus sobre o cotidiano, os medos, os anseios, as dificuldades foi algo ensinou ao longo de sua vida na Terra.
Há sinceridade num elo de amizade e essa é a essência do evangelho: SINCERIDADE! “quero coração sincero e não sacrifícios...”
Assim percebi em minha profunda meditação que: eu era um ótimo filho, mas um péssimo amigo de Deus.
Samuel Boss.