Como os outros filhos
Não sou como os outros filhos, eu cresci querendo chamar atenção para mim, eu desejei carinho redobrado, eu não aprendia nada na escola, era uma garotinha com deft de atenção.
Não sou como os outros filhos, me sentia excluída, sentia falta do pai, sofria bulling na escola.
Não sou como os outros filhos, me sentia diferente, sabia que havia algo errado comigo mas não fazia idéia.
Não sou como os outros filhos, fui crescendo e a sensação de rejeição foi aumentando, para os outros era apenas uma adolescente rebelde, mas na minha cabeça o mundo desabava sobre minhas costas. Fui escutando palavras de maldição e pragas dos próprios familiares, palavras que ardem até hoje.
Não sou como os outros filhos, enquanto os outros dois desenvolviam suas vidas normalmente, na minha foram se desenvolvendo transtornos psiquiátricos, transtorno de personalidade, depressão. Enquanto jogavam palavras em minha face dizendo que minhas atitudes não passavam de atitudes infantis para chamar atenção, fui perdendo a verdadeira vontade de viver.
Não sou como os outros filhos, me perdi dos meus objetivos para tentar curar feridas.
Não sou como os outros filhos, tive que aprender a caminhar sem ter ninguém para segurar minhas mãos, teve dias que a solidão era insuportável e não tinha ninguém por perto.
Não sou como os outros filhos, eu não tenho expectativas de vida, eu não sou ninguém.
Não sou como os outros filhos, provei do gosto amargo da vida, provei as consequências de escolhas ruins, afinal não tinha ninguém apontando o caminho.
Não sou como os outros filhos, apesar de ter tentado muito ser igual, para ver se ao menos ganhava o mesmo grau de importância, jamais deu certo, jamais daria certo, afinal não sou como os outros dois filhos.