CONTEMPLAÇÃO...

Ontem, desses tempos que não se contam, conheci alguém... Foi um imenso prazer!

Aprendi tudo sobre como e quem ela era...

Com a mais perfeita observação e paciência eu a compreendi.

Eu a entendi, plenamente, desde um simples olhar, passando pelos mais sutis ou repentinos gestos, até o seu pensamento, passado, futuro e fala... Eu a sabia e a escrevi...

Entretanto, como qualquer indivíduo que se molda sob as condições, situações e experiências da vida, sabia que pela construção do seu ser, havia nela alguém diferente. Alguém que apenas se adequou naturalmente às tantas sensações e se fez daquele jeito.

Ela era alguém que, logo ao perceber-se, enquanto se imaginou, acreditou e até que, por vezes tenha duvidado, passou a se enxergar assim. Então, uma auto explicação foi proposta, a qual se fez e todos que a conheceram aprenderam-na daquela forma. Assim, aquela certamente era ela... Era o jeito dela.

Mas, aos poucos, nos papos das psicologias, das conversas e dos apartes de nós sobre as extremidades de todos os polos e angústias do "ser", concluía-se que, talvez houvesse nela muito mais de alguém que, é como se entendeu ser, e não como deveria ter sido e nunca foi, ou ainda que, até foi mas, não se lembra ou não se sabe seu quando...

Eu entendia que, certamente, a forma, muito embora especial, pelas circunstâncias da vida, como ela era, talvez não fosse a mais real, mas de tal modo, qual fosse sempre seria tão especial quanto...

Contudo, me instigava saber: como ela seria mesmo, se assim ela não fosse? Ou melhor, como seria tê-la conhecido sendo quem ainda nem é mas, certamente, será...?

Como é descobrir alguém que já se conhece, mas ainda não se sabe, sendo que ninguém sabe como seria conhecer a mesma pessoa que se torna outra novamente?

É um desconhecer de quem já se conhecia, ou um conhecer de quem não se conhecia.

Hoje, diariamente, a observo... Sei que há um leve estranhamento e contentamento pela surpresa de cada descoberta das infinitas novidades desse novo ser... Pois, saber que essa novidade a qual se está em face, talvez sempre esteve ali na sua frente mas, ainda não havia sido percebida. Fôra como um conhecer-se aos poucos e, nesses saberes, não se define o que é novo, enquanto tudo que ali se aprende e se descobre, por si só, já era...

De mim, há um novo observar das palavras e gestos como se fossem de outra pessoa que, obviamente, se tem o imenso prazer de conhecer... Mesmo que a certeza lhe grite que não mudou nada, é instigante sorrir ao notar outra pessoa, tão especial quanto a outra, surgindo e se formando aos poucos, diante dos seus olhos. Olhos que não param de observar como quem olha a primeira vez com uma vontade inesgotável de dizer: "Olá! Muito prazer!"