Suicídio

O nome dele era Pedro.

Ele tinha os cabelos da cor de sol de fim de tarde e aquele olhar de criança que ganhou o melhor presente do mundo. Pedro conseguia perceber quando eu estava mal, mesmo se eu tentasse disfarçar com o meu melhor sorriso ou com as minhas palhaçadas de sempre. Ele me falou "sai dessa, você merece alguém melhor" quando soube que eu gostava de um babaca qualquer. E ele tinha razão.

Pedro fez questão de me mandar mensagem assim que descobriu que havia passado no vestibular, me contou antes mesmo de falar com o pai, com a mãe, com a irmã ou com a namorada. Esta, só para constar, me odiou nos primeiros meses do namoro deles. O ciúme dela fez com que eu ficasse um bom tempo longe dele, até que ela percebeu que ele e eu éramos mais brothers que Chris e Greg.

Pedro me pedia ajuda para escolher os presentes da namorada e eu sempre escolhi todos como se estivesse comprando presentes para as minhas melhores amigas, mesmo sabendo que ela ainda me odiava pelo simples fato d'eu estar na vida do Pedro há mais tempo. Pedro me ajudou a entender questões de Matemática e me enviou muitos de seus trabalhos acadêmicos para que eu verificasse se eles tinham "alguns errinhos de digitação"; já passei horas corrigindo cada um dos inúmeros erros de ortografia, concordância e de formatação.

Pedro sorria com os olhos, com a boca, com a testa enorme, com as bochechas e, principalmente, com a alma. Mas era esse mesmo Pedro sorridente que me ligava irritado quando brigava com os pais ou com a Bruna, e tudo o que eu podia fazer era dizer que as coisas se acertariam um dia, o que já era o suficiente para que ele me mandasse textos enormes (e cheios de erros) me agradecendo depois.

Pedro me ensinou a me importar menos com o que os outros dizem, me ensinou a não ter medo de falar o que eu penso e tentou (sem sucesso) me ajudar a superar meus medos. Pedro era o único ser humano no mundo que sabia como eu me sentia mal por conta de coisas que hoje eu sei que são tão pequenas e que não deveriam me afetar tanto.

E eu sei que o Pedro foi um filho muito melhor do que os pais dele sonhavam que algum dia teriam, foi o melhor namorado da Bruna e o melhor amigo que eu já tive, só não sei o que o levou a querer nos deixar sem a sua presença maravilhosa. Se soubesse, juro que teria me esforçado para fazê-lo rir ainda mais das minhas piadas sem graça e das minhas teorias sem sentido, juro que teria conversado mais com ele pelo Whatsapp durante o meu horário de almoço, juro que teria atendido cada ligação dele no meio da aula, juro que aceitaria cada convite para ir tomar cappuccino com ele e com a Bruna nas férias, teria feito o máximo para que ele desistisse de morrer. Mas eu nunca soube e nunca vou saber, pois o Pedro não está mais aqui.