A Caixa
Meus olhos estão abertos; mas não posso ver, está escuro aqui...
Não consigo encontrar a saída; estou numa caixa selada, disseram que era melhor assim...
Sofro dias e noites numa agonia interminável, sem sequer entender o que acontece do lado de fora, sem entender o porquê de estar aqui, mas ninguém vê, nem pareço estar aqui...
Já tentei gritar por socorro, nas paredes bater; mas é inútil, esta caixa é do tipo que deve ser aberta por fora, por quem por sua vez me enclausurou...
Não sei por quanto tempo estive aqui, penso que talvez desde o início...
Nunca vi meu rosto, não sei meu nome, ninguém me chama...
Algumas vezes penso estar à beira da morte, sem forças, sem razão ou emoção para continuar...
Mas uma voz dentro de mim, bem lá no fundo insiste, persiste...
Em falar, gritar, pedir, implorar...
-“Você deve continuar!”
-“Você não pode desistir!”
-“Você tem que se libertar!”
-“Você deve reagir!”
-“Levante-se!”
Então me ergo uma vez mais.
Não sei onde estou, não sei quem me colocou aqui, mas sei que não pertenço a este lugar...
Assim como existem um lado de dentro, há também um lado de fora...
Se estou enclausurado é porque existe liberdade,
Se não estou aqui por minha vontade é porque fui forçado...
A escuridão e o silêncio tentam me confundir, me enganar, não compreendendo que são as provas mais fiáveis da existência de seu oposto...
Não há necessidade em ver por inteiro se uma parte basta para a compreensão do todo...
Não imagino para que sirvam estes membros em minhas extremidades, mas quando tento esticá-los sinto que não foram feitos para permanecer neste lugar.