Corredor
Não te escrevi.
É porque te vivi
A poesia se basta calada
Quando permeia cada suspiro
Cada reencontro, beijo e abraço.
Os versos que não compus foram aniquilados
Enquanto acordávamos juntos, adejando cílios
Com os corpos quentes e nus e unidos, boca com boca.
Não busquei rimas, organização de métrica, contagem de palavras
Esses embustes de rebuscamento vernacular para externar o impossível.
Busquei me ater aos fios compridos que encontrava nos travesseiros
Ao teu inebriante perfume neles ainda incrustado
À caneca transparente abandonada entre os livros
À cerveja trazida e abandonada na gaveta do congelador.
Às certezas veladas do que somos ou viríamos a ser
Às incertezas escancaradas do que somos ou viríamos a ser.
À ansiedade de me assustar com a campainha tocando
E ver que a silhueta esperando ao portão
Pertence àquela que em pensamento
Me ajudou a atravessar um dia ruim.
Te escrevi
E é porque te quero
Tanto, tanto e tanto.
04/09/2016