VENTO TRAIÇOEIRO. (ALMIR PRADO).#_x.

Demorei a aceitar a visita do vento. Sei que quando ele bate à porta, abri-la torna-se um caminho sem volta. Dessa vez, entretanto, a curiosidade falou mais alto. A casa estava mesmo precisando de uma boa ventania, algo que levasse nossas fotos do mural, as cartas guardadas na gaveta, memórias palpáveis do que um dia fomos. Mas o vento, quem diria, foi traiçoeiro comigo uai. Em meio ao redemoinho de mágoas e orgulho ferido que tomou minha pequena sala, misturados aos sentimentos que nos levaram ao fim, vi nossos bons momentos. Revivi os nossos bons momentos. As intermináveis crises de risos me fizeram sorrir outra vez. Senti o gosto do nosso primeiro beijo, a paz da nossa primeira viagem, o desejo avassalador que envolveu nossa primeira reconciliação. Senti, como se da primeira vez, todas as vezes em que fomos felizes por sermos um, mesmo sendo dois. Mas as cortinas acalmaram-se. A poeira abaixou e o vento passou. Saiu ligeiro pela janela, levando consigo tudo o que podia tirar do lugar. Deixou, por sorte ou mera distração, o meu coração... Que, admito... Ainda insiste nesta mania de querer te amar contra qualquer razão e ouvir aquele velho CD do Phill Collins .

Almir Prado
Enviado por Almir Prado em 02/09/2016
Reeditado em 02/09/2016
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