Cuidado com esse machado, Eugênio.

A vida é um negócio louco. Uma hora você está bem. Tudo parece que se encaixa. E de repente não há mais flores. O jardim seca. O vinho azeda. As ressacas se tornam mais frequentes do que a boa embriaguez. Tem gente que não sabe lidar com isso. Mimados pelas vacas gordas dos bons tempos, terminam querendo matar de pancada as vacas magras dos dias ruins.

Eu mesmo, as vezes me pego em um completo estado de pânico. Não o tempo todo, ok!? Mas toda vez que penso num futuro próximo com tantas coisas fora do meu controle.

Morro de véspera, feito peru de natal. Só que eu não me deixo tornar outra pessoa por causa disso. Tento manter minha calma mesmo sabendo que os próximos meses podem passar por cima de mim como um ônibus lotado, sem ao menos desacelerar. Eventualmente vão me forçar a me mudar, a dar dois passos pra trás se eu quiser andar pra frente. E nesse ponto acho que incertezas são uma parte saudável da vida. Mas há quem fique louco por causa disso...

(...)

Me assustei nesses dias, com uma notícia que li sobre um homem matou a esposa e os dois filhos por que não queria descer de padrão de vida.

Uma ação significando que se não fosse pra viver como rico, melhor que a família inteira morresse.

Não consigo imaginar algo assim.

não consigo aceitar que a vida leve as pessoas a isso. Não consigo processar essa linha de pensamento.

E isso me deixa com uma questão presa na cabeça,

me incomodando como se fosse uma ferida no meio do cérebro...

Será que vale trazer alguém pra esse mundo?

Arrastar alguém da não-existência, para esse conflito eterno,

pra essa guerra que todo mundo luta, todo dia,

tendo como resultado inevitável,

a morte.

Acho que se todo mundo ficasse pensando nessas coisas, como eu, ninguém viveria. Ninguém faria nada.

Me pergunto se é saudável da minha parte, ficar divagando sobre isso enquanto as horas se passam.

Me pergunto o quanto me separa do que a sociedade define como loucura,

e se eu já estou num caminho irreversível, para o hospício...

(...)

Cuidado com esse machado, Eugênio...

Só basta um corte.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 31/08/2016
Reeditado em 31/08/2016
Código do texto: T5745883
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