Quando Morrem Borboletas

"Tão triste que é! Mas… tem de ser…

Amor?… Chama, e, depois, fumaça:

O fumo vem, a chama passa…"

( Manuel Bandeira )

Há em todos nós uma coisa que se perde, sempre que olhada outra vez. Lembro-me que o caminho era sempre mais longo na primeira vez, e a estrada, era sempre mais bela e colorida. Tudo me era fascinantemente estranho. Sabe, tem certas coisas que apenas nos são percebidas antes de vistas anteriormente, pois talvez, o bom da vida esteja escondido na empolgação do primeiro momento.

Penso: e tenho a intuição de que toda primeira vez também é a última vez. E logo após, tudo é velho. Tudo é o mesmo. Talvez a honra do ser humano está em acostumar-se com as coisas, e a poesia destas, que se perde cada vez que olhamos novamente. Ela me disse que "sempre tem algo acontecendo a nossa volta", quem sabe se ela tem razão ou não, e são meus olhos que já estão cansados, pois, onde ela vê poesia, eu vejo tristeza, mas a tristeza também é poesia, só que feita por olhos de alguém que já morreu. Alguém que um dia viveu, sorriu e amou, mas hoje já se esqueceu como se faz. Se o câncer é a tristeza das nossas células, então, a tristeza é por si só o câncer da nossa alma.

Em cada olhar cruzado na rua: há um lamento. Em cada lembrança do dia anterior: um arrependimento. A vida como ela é nos posta chega me dar calafrios, e acho que isso é normal. Os dias são tão iguais aqui na terra... Eu já desejei coisas que ciência nenhuma me dará, tive idéias que nenhuma filosofia poderá dizer que estão erradas, amei além dos contos de Shakespeare. Em cada ser que conheci, havia um mistério, dos que tentei me aproximar, abriu-se um abismo entre nós. Nunca pude conhecê-los, nunca soube o que verdadeiramente guardavam em seus corações, e se soubesse, ainda assim haveria a possibilidade de tudo mudar outra vez. A ordem das coisas é ver estas coisas se deteriorarem, é nascer e viver e depois findar-se.

Ouvi dizer que algumas borboletas vivem apenas por um dia. tão triste que é, mas é assim que tem de ser. É que existe uma beleza em tudo isso, entende? Talvez nem esteja na vida em si, mas no fato de não haver expectativas. Talvez, a beleza da vida, mesmo estando em tudo, sempre nos será breve, sempre estará no fato de só poder ser vista uma vez em cada olhar diferente. Tão triste que é, crescer, amadurecer, ficar bonita (dentro de suas particularidades, claro) para partir no final, e olhar a tudo isso de uma maneira meramente estupida e banal. Todos os dias nascem borboletas, algumas delas não passarão de um dia, porém, estas não terão tempo de acostumar-se com esse mundo opaco. Terão para sempre consigo a sensação de viver tudo somente pela primeira vez. Por isso garota, se tu for visitada por uma borboleta, saiba que você pode ser a última poesia a ser vista por ela. Ou a primeira...

[...]

É, a vida é curta!

Um Rapaz Meio Estranho
Enviado por Um Rapaz Meio Estranho em 30/08/2016
Reeditado em 12/02/2018
Código do texto: T5745031
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