MEU GOSTO PELAS PROFUNDEZAS

Todas as previsões que tive aconteceram de forma assustadora. Não que eu duvidasse da minha capacidade abissal de premonição e comunicação integrada às partes do meu cérebro homossexual, todavia, tinha aquela esperança remota de atrasos no decorrer dos fatos. Escrevo confuso porque não tenho intenção de cronologias. Elas definitivamente não existem. E no meu tempo morto de luto pelo fim de um grande amor, me estremeço todo e recorro a este notebook lançado há dois anos, mas que me serve de ferramenta para que eu não pire enquanto fico a paisana identificando padrões de comportamento dos outros buscando a sua presença ou o seu cheiro de homem rural que satisfazia todos meus desejos sexuais, embora me matasse de ódio no restante da vidinha curta que nossa relação tinha.

Lembro-me da inútil tentativa de escrever simplificado para aqueles que não queriam entender. Primeiramente na rádio e depois no nosso amor que era unilateral. Se eu pudesse, colocaria todos aqueles momentos felizes em pequenos fracos de vidro para que eu pudesse me embriagar disso várias e várias vezes até achar momentos mais dignos de serem vividos com outros corpos. Meus desejos quase sempre são utópicos mesmo. Já me acostumei com a estrada que me leva do desespero à nova possibilidade todos os dias da minha vida. Nos finais de tarde, procuro ouvir um pouco de violino ou alguma coletânea de musica clássica, coisa refinada, tudo aquilo que você sempre odiou pra não lembrar você e ressignificar minha existência no presente. Não cabe a mim analisar a eficácia de minhas atitudes, ou ser exemplo de “Como se Recuperar Após Perder um Grande Amor”, não sou designado pra isso, não sou designado pra coisa alguma. E não tenho a intenção de ser outro rebelde que escreve por luxuria, escrevo para não morrer na mediocridade da minha vida, escrevo pra tirar todo o câncer que habita escondido em mim, esperando a hora de dar as caras. Não preciso dar justificativas, meus atos sempre foram injustificáveis.

Meu eu não é proposital, é provisório. E tudo o que eu lhes escrevo vem do amor que mora em mim, é algo exterior ao corpo físico, é transcendente, entende?

Voltei a habitar mundos literários, estou feliz, passei nove meses em coma consciente. Coma alarmante. Coma de amor. Tudo o que lhes digo é sangue vivo, tudo o que experimento é contado porque acho que devo. Poderia excluir todos os arquivos assim como todos os suicídios em escala global que tenho assistido, mas gosto de inalar a dor de uma saudade, tenho gosto pelas profundezas.

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 30/08/2016
Código do texto: T5744246
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