O ensino hoje
A responsabilidade dos professores hoje em dia é muito grande. Sempre foi, a bem da verdade. Mas hoje me parece que há um "emburrecimento" do ambiente escolar - em outros ambientes também, mas cito esse em específico porque já ouvi da boca de professores - que transforma tudo e todos em máquinas de reprodução do pensamento único, o mercado. Logicamente, que esse ambiente se duplica, triplica e quadruplica ad infinitum, quando os alunos se formam - quando se formam, quando conseguem - e se tornam cidadãos - ou um arremedo de cidadãos. Nesse sentido a postura crítica e de reflexão é fundamental, mas é preciso implementá-la com base, com instrumentalização correta sob pena de se ter apenas uma máscara, uma maquiagem de "modernidade". Sendo assim, qualquer professor tradicionalista faria melhor do que uma abordagem superficial da postura crítica. Para ilustrar o que estou dizendo, transcrevo o pensamento de Alberto Manguel:
"O mundo hoje é uma só sociedade de consumo que, para funcionar, deve educar o cidadão a não pensar. Os valores são apenas aqueles da facilidade, da rapidez, do banal. Essa educação necessariamente se opõe à inclinação natural do ser humano que é a de parar, refletir, levar a curiosidade ao fundo. Apesar do esforço de alguns professores, prevalece o impedimento à reflexão. Nossos centros de estudo não são mais escolas: são centros de adestramento para criar escravos que devem cumprir certas funções no seio de uma usina. Estamos no modelo de Chaplin em 'Tempos Modernos'. Isso permite que uma máquina econômica falida e infernal continue a nos engolir e se alimentar do sangue de nossos filhos, chamada 'modelo econômico'."
Entrevista de Alberto Manguel, novo presidente da Biblioteca Nacional de Buenos Aires . Revista O Globo . 28 de agosto de 2016