SAUDADE SIM, TRISTEZA SIM !

A vida é um grandioso mistério e a cada dia aprendemos algo que certamente pode nos surpreender gradativamente. Há caminhos que trilhamos que nunca imaginaríamos e frases que entoamos sem ao menos entender o significado crucial que ela tem dentro de nós.

Durante toda minha caminhada eu sempre escutei e repeti sem refletir a seguinte frase: “Saudade sim, tristeza não”. Engraçado, que era esse o tipo de conselho que eu estava apta a falar para quem quer que fosse quando se tratava de perder uma pessoa querida.

Então, há alguns anos eu percebi que essa frase é mecânica demais, vazia demais e amor e sensibilidade de menos. Mas, essa minha percepção se deu quando, em dado momento da minha vida, também perdi pessoas muito próximas e muito queridas e passei a ouvir essa famosa frase que em nada amenizou a minha dor.

Eu estava triste, sofrendo, afinal, havia perdido alguém que me era importante e que de alguma forma fazia parte da minha vida. Como não sentir tristeza? Como não sentir saudade?Ouvia afirmações dizendo que a dor ia passar. E sinto informar, que essa dor nunca passa. Ela pode ser amenizada, ela pode ser controlada, mas esquecida, jamais.

Claro que essa tristeza não pode me enclausurar, me tornar uma pessoa egocêntrica, com medo da vida, do afeto, da aproximação. Entretanto, essa dor é muito real e muito pessoal.

Há quatro anos perdi minha avó, uma pessoa incrível que eu jamais esquecerei e que ainda que o processo de luto tenha passado, a dor continua. Mas, entendam-me: não é uma dor depressiva. Essa dor é aquela em que existe um vazio misterioso da saudade em que não pode ser superada com um telefonema. Mas, que pode ser amenizada com as lembranças. A saudade não é abstrata e a dor menos ainda.

Recentemente, tive outra perda muito dolorosa, há cerca de um ano, pra ser exata. Perdi uma grande amiga. Foi um momento indescritível de dor, de tristeza e de solidão que palavra nenhuma poderia me consolar e não pode até hoje. Essa minha amiga, que direi o nome sem ressalvas, chama-se Mayte ( e digo no presente porque ela está viva em outro plano, pois a morte para mim, é uma passagem para a vida).

A minha vida não foi mais a mesma ao conhecê-la, sobretudo, minha caminhada espiritual. Ela me ensinou os princípios básicos e fundamentais para ter um encontro pleno com Deus e comigo mesma. Além de ter me ensinado a amar a minha própria essência, ela também me ensinou coisas básicas como: fazer unhas, amar meus cabelos cacheados, valorizar minha intelectualidade e a amá-la (diga-se de passagem, que ela não era uma pessoa com gênio fácil).

Essa semana está completando um ano em que minha amiga foi morar em outro plano. Respeito à crença de cada pessoa, mas para mim, a morte é uma ilusão. É apenas um retorno para nosso verdadeiro lar. Mas, não posso ser hipócrita comigo mesma ao afirmar que essa dor passou e que essa tristeza foi embora ou que um dia irá passar. Ela certamente dói menos que no primeiro dia e irá doer bem menos daqui a muitos anos, mas jamais entenderemos de fato os mistérios dessa separação por mais espirituais que possamos ser, pois no fundo não passamos de seres humanos.

Então, permita-me afirmar com veemência e com muita autenticidade que: Saudade sim, tristeza sim!

PATRICIA PESSOA
Enviado por PATRICIA PESSOA em 08/08/2016
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