O FILHO DE DEUS.
O que me encanta em Jesus é essa habilidade extraordinária de permanecer mesmo depois da partida. Meu pensamento passeia constantemente em caminhos que estão além dos encontros narrados nos evangelhos: perscruta o silêncio da narrativa, a transformação que o evangelista não pôde conhecer.
Aquele despertar desconcertante do primeiro encontro era capaz de impulsionar todo o esforço para se consertar os detalhes desalinhados de uma vida toda errante.
Todos os forasteiros que cruzaram o seu caminho nunca mais foram os mesmos. E o ponto mais importante da mudança não era necessariamente o testemunho ocular, aquilo que a narrativa do evangelista pôde comportar, mas aquilo que nascia no âmago de quem O experimentava e que nem sempre podia ser alardeado com palavras ou mesmo compreendido.
Assim, entretenho-me a imaginar como Jesus permaneceu na vida daquele jovem rico depois daquele diálogo e do imperativo final: "vai vende tudo o que tens e dá o dinheiro aos pobres." (Mc 10, 17-22)
Do mesmo modo, imagino a vida daquela viúva de Naim (Lc 7, 11-17) após a ressurreição do filho; o diálogo que os dois certamente tiveram ao chegar em casa; o olhar de um para o outro e o sentimento de gratidão por aquele homem desconhecido que se enchera de compaixão e misericórdia pela sua realidade.
Recordo-me ainda daquela hemorroiza (Lc 8, 43-48) que fora curada após doze anos de sofrimento; a forma como aproveitara a vitalidade de sua saúde restaurada, e o modo como certamente falou de Jesus a quem lhe perguntou sobre o milagre.
E tantos outros...
A lista é incalculável.
Um exercício, porém é necessário: procurar também em mim esta Presença transformadora de Jesus depois daquele primeiro encontro. É fato que eu ainda posso encontra-Lo escondido em minhas fragilidades.