O homem reativo

Para conhecer a "má-consciência" em alguém basta observá-lo conversando, suas palavras estão impregnadas de intensão, seus frutos, a seiva que lhe traz alegria, ele colhe da oposição, mede a si mesmo pelo que ele pensa do outro, excluindo tudo que é diferente e tomando-o por mal, pensando a si mesmo como "bom" por uma via de acusação ao mal. Envenena a si mesmo com o fruto amargo do ressentimento, esse moribundo. Sua realidade é fundamentada pelo contrato com a sociedade, com um grupo, um partido, uma ceita, religião ou ideologia. Sozinho NUNCA! Para o homem reativo o mundo é mau e ele bom, tem uma profunda suspeita por tudo e todos porque seu espírito está cheio de culpa.

Agora imagino todos os indivíduos de uma sociedade pensando assim, só poderia dar sujeira, muita sujeira. Em troca de proteção e prazer a sociedade escraviza o homem com o poder de lhe vender sua felicidade, para se manter estável ela precisa que o indivíduo se submeta as leis vigente para o bom convívio. O indivíduo por se sentir jogado no mundo, ao acaso, esquecido e vazio, se submeterá ao poder que lhe oferece os meios para tornar sua existência mais suportável. Para que o contrato continue firme a sociedade mantém o homem ocupado, trabalhando incessantemente para dissuadi-lo de que a felicidade está no maior prazer, e por consequência, no maior poder. E o que é o poder para o homem reativo senão fazer sua força e sua vontade soberana sobre todas as coisas!. Para mantê-lo no rebanho ela pune o homem quando este age de modo excêntrico, diferente e fora da ordem das coisas, e com isso imprime-lhe a ferro e fogo a memória/dor da culpa por ter agido errado, tornando-o ainda mais preso ao sistema o qual o escraviza.

No interno o homem vive pressionado pelos próprios afetos que vai acumulando, sem dar vazão a força que quer se afirmar, ao instinto que lhe diz para ir para esquerda ao invés da direita. O sistema externo reflete o sistema interno do homem, com a diferença de que no externo as tensões se escondem por baixo do julgamento, punição e "bom" cidadão, e no interior o homem julga e pune a si mesmo. Ele se torna um reativo latente, uma bomba preste a explodir mas que nunca explode, suas forças ativas não podem se expressar para criar novas possibilidades de vida, esquecimento e assimilação das forças reativas, interiorizando toda dor no cerne de seu ser por faltar-lhe energia para digerir (esquecer) os afetos negativos. Mas as forças se extravasam e voltam contra si mesmas, dando origem a todo tipo de “mal elemento”, criminosos cada vez mais violentos, pessoas cada vez mais estressadas e ansiosas, depressão e suicídio; até mesmo o “bom” moço pai de família pode ter uma explosão por tensão e agredir a esposa, ou espancar o filho, e no menor dos casos é aquela vida monótona irritadiça, onde basta as coisas saírem do conforme (nossas leis) para nos tornar profundamente amargos com a vida.

O homem, em todas as classes, quer fazer perseverar seu poder sobre o mundo porque é assim que ele aprende a pensar o mundo, e se não consegue irá culpar o outro por isso. Ele é incapaz de criar condições para sua própria felicidade, e por isso dependerá e defenderá seu sistema, e quanto mais sucesso tiver o indivíduo nesse meio maior será sua vontade de dominação, mais reconhecido pelos que almejam o poder ele será, pois é somente com o poder maior que se conquista o prazer maior; e quanto maior o poder maior a dependência de outros para dominar – aqui, já não por poder, por necessidade, servidão.

O reativo pensa seus prazeres como finalidades, age somente por um fim, e sua vida é uma busca incansável pelo fim supremo onde o prazer será eterno. ( ou morrer ). E como a sociedade não explode? Para isso existem aqueles que nos ajudarão a sair ou resolver nossos problemas: a religião nos estende a mão com compaixão, a auto-ajuda para nos conduzir a uma vida prospera, para nos “gardenizar”; o sacerdote para nos redimir, a ciência para descobrir a "verdade", a psicanálise para nos diagnosticar. Estão todos prontos a ajudar; na verdade, eles já nos aguardam, eles precisam dos doentes para não se sentirem doentes. Para isso o mundo tem todas as respostas, e como não teria, já que foi ele mesmo quem as criou!

Fiódor
Enviado por Fiódor em 05/08/2016
Reeditado em 16/11/2016
Código do texto: T5719858
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