A Grande Carpa Dourada

Em memória de meu pai Francisco Alves de Carvalho

inspirado no final do filme Big Fish.

Meu pai estava na cama... seu leito de morte... me perguntando onde etava Reizinho... se a bruxa havia pego ele... eu disse não pai vocês correram lembra... fugiram da ilha da bruxa... vcs se esconderam mergulhando no rio Tocantins e entraram no oco de uma árvore submersa, emergiram dentro e conseguiram respirar... ficaram ali uns 5 minutos... mas ao sair antes de chegar a margen uma raia ferrou sua perna... o senhor me mostrou essa cicatriz várias vezes...

Peguei na sua mão sentindo a falta do dedo que foi perdido atravessando um rio...me contou inúmeras vezes como havia cortado ele prensando o dedo entre a corda e uma pedra decepando-o... sempre comentava sorrindo que alimentou algum peixe...

As mesmas mãos que garimparam ouro e diamantes no fundo do rio.

Daí te peguei no colo... estava leve mais do que o normal...

Fomos até a mina no fundo do quintal e ela estava cheia de água como antigamente... com todas as carpas, o peixe king vermelho, os cascudos e bagres andando de um lado para o outro se escondendo entre os aguapés.

Olhamos para trás e a Paola estava brincando com o Nícolas na tampa do poço, a mãe também estava mais jovem.. com o cabelo preto ... o Lucas era neném... e chorava com o cabelo negro da vovó Maria.. ela ficou triste... mas logo passou.

Na garagem o fusca azul dos anos 70... mas ele estava novinho em folha...

Olhamos a churrasqueira e ela estava novamente do outro lado, a tampa alta do poço perto da casa... fizemos o melhor churrasco de todos com a família reunida.

A casa ficou cheia novamente... a mesa da copa foi esticada para receber a todos.

O Sr. Me pediu para eu te colocar embaixo da parreira de uva para descansar na sombra... eu fiz.

Segurei novamente sua mão e vc sorriu... agora estão todos a sua volta pai... Arthur, Letícia, Tiba, Lenita... também todos os netos... e todos os amigos.

Os netos e bisnetos fazem fila para abraçar o vovô.

Estamos todos aqui pai eu digo... e vc sorri.

Então tenho uma ideia maluca... te coloco dentro da mina junto com os outros peixes... com cuidado para se sentir como nos banhos do rio Tocantins... e nos conta novamente como o atravessava a nado de um lado para o outro.

Então como mágica o vejo se transformar na maior carpa dourada que já vi... mal coube na mina... para por um tempo e me olha... depois afunda e vai embora para todo sempre.

Pai só existimos por meio da sua existência.

Seu universo agora só existe nas nossas lembranças... Adeus.