VELHOS AMIGOS
A gente nasce e de repente sonha, a gente vai vendo, aprendendo, se achando. Sabemos de tudo. Aí vem outros "sabidos", nossos primeiros e verdadeiros amigos, aqueles para quem a loucura inconseqüente é o jeito certo, é a vida que passa num único instante de feliz e irresponsável travessia. Passamos a sonhar juntos, a brigar juntos, até mesmo, uns contra os outros, desde que amanhã, junte todo mundo pra pegar um "inimigo" comum, o cara do bairro ao lado. Nesse tempo, o tempo é que menos conta, mesmo o dinheiro, desde que se possa fazer o errado virar certo. Mas o tempo está ai, não perdoa, castiga, ensina, magoa e separa. Outros coisas virão, a conseqüência, a responsabilidade, outros amigos, a circunstancia e o acaso nos manda para longe, o que era felicidade se transforma em lembrança, e a vida avança anos a dentro. De repente, olhamos nossos filhos, seus amigos, nossos pais e seus falecidos amigos e a matemática derruba a ultima e resistente inconseqüência, a insistência de uma eternidade nunca acreditada, mas jamais citada nos bares, nos amores, na luta, apenas nos sonhos. Novamente, de repente, o passado se faz necessário, o tempo que falta é menor que o tempo vivido, já fizemos a curva, mas eles, aqueles velhos amigos nos lembram que o que foi feito, não passa do alicerce que mantém a esperança de alegria, o que foi poderá ser feito novamente, diferente, mais doído, de forma mais lenta, deliciosamente lenta, afinal, não temos pressa, quanto mais lento melhor, quanto mais junto, mas amigo, quanto mais velho, mais verdadeiro. E o que era passado, se faz presente, tão vivo que a morte é apenas um detalhe que não vale um minuto perdido de travessia.