SHOPENHAUER E O FRAGMENTO COMO PRINCIPIO

Até onde eu sei o aforismo foi introduzido na filosofia por Arthur Shopenhauer em franca oposição aos enunciados dedutivos dos sistemas filosóficos como o de seu eterno desafeto Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Assim, podemos atribuir-lhe um modo novo de exercitar o pensamento filosófico que encontrou e Friedrich Wilhelm Nietzsche um dos mais fecundos herdeiros.

Não se trata apenas de uma questão de estilo, mas de uma consideração do particular , do fragmento, como uma estratégia discursiva que busca fugir a gaiola dourada dos conceitos e da narrativa monolítica de uma racionalidade estreita, que se faz através de um “dizer aberto” onde o todo não é a soma das partes e se realiza no pressuposto de seus inacabamentos e silêncios.

As mais fecundas narrativas são como complexas tapeçarias artesanal e pacientemente tecidas em imaginações de caleidoscópio. Afinal, nossa própria condição de seres viventes é fragmentada, multifacetada e aberta a possibilidades quase infinitas de interpretações e reelaborações.

Em resumo, as lacunas de uma narrativa são tão necessárias quanto a sua intencionalidade.