Cacofonia

Ecoa tão forte, soa tão torpe

Afronta a própria sorte de se estar aqui.

Desenha o pensamento, dá alimento pro descontente

Combustível para quem procura outra frente

Além de todas que já vi.

Começa tão raso que parece sinfonia,

Cresce tanto que te enche de agonia.

A válvula de escape não está em sintonia

E não permite vazão.

Lá no alto sei que nada há;

Lá do alto sei que nada vê;

Carece, então, de quê?

Senão tudo, nada

Pois a mão que maneja a enxada

Não dá conta da demanda.

E se não é pleno, nada me interessa.

Pois banham-me com luz que escapa a fresta;

Enquanto me enchem de coisas que não consigo quantificar.

Esperam que eu seja tudo com tão pouco,

E por vezes me pergunto se sou louco,

Quando olho para o lado e sou o único me questionando,

Se ainda deveríamos continuar lutando,

Na esperança de que desta vez todos estejamos juntos.

Pois de um lado há ódio,

E do outro lado também.

Pois um lado odeia o outro,

E o outro lado odeia também.

E deste lado, perdido, procuro alguém

E mesmo acenando, o outro lado não vê ninguém.