O ser
Agora refletindo na prosopopeia inquietante de um ser, instalado no cubículo do meu pensamento, construo-o dentro de um calabouço levemente perfumado pelas fétidas razões dialéticas, o alimentando e o dissecando na euforia sádica de quem treme ao ser açoitado por lírios vertiginosos. Dou a ele um canto esplendoroso de dor e miséria, e o encurralo, embriagando-no com palavras doces, refinadas pelo meu escroto ego, que dia e noite o infartam com sons eloquentes de uma música celta, com seus bramidos de luta e bravura, fazendo com que esse ser levante de sua condição incapaz de servo de minha lascívia incógnita. Balbucia algumas palavras torpes, enraizadas em sua língua decepada pelo orgulho incontrolável do meu eu interior e, todos os dias pela manhã, se levanta, sentindo a alvorada em suas bochechas encharcadas pelas lágrimas que na escuridão outrora lutara para permanecer de pé em sua existência materializada...