Pensamentos XXXVIII
Tudo quanto estivermos envolvidos emocionalmente será motivo de conflitos. Falta-nos aprender a nos relacionarmos com nós mesmos e com o outro. Todo problema do homem se concentra aí, na convivência. Penso que um homem que teve a família assassinada por um outro sofrerá maior dor do que aquele que perdeu a família num tsunami. O homem é o lobo do homem. Seu único problema é ele mesmo, e por não saber conviver consigo mesmo acaba por não saber conviver com os outros; e se o faz, usa as pessoas como meios para preencher seu vazio que nunca é preenchido, por isso se volta para o mundo em busca de algo que o liberte de si mesmo.
As pessoas mais próximas serão as que mais nos trarão sofrimento. Não as pessoas em si, mas a relação que criamos. Grande parte do que julgamos ser um problema nos outros é causado pela ideia de "dever". Pensamos que o mundo nos deve algo e agimos como vítimas o tempo todo. Criamos histórias sobre como deveriam ou não agir conosco. Centenas de outras histórias vamos nos contando e acreditando, e os sentimentos de desamparo, solidão, tristeza, medo e ansiedade irrompem de uma vez em nosso corpo.
Mas o que nos causa o sofrimento são as coisas o que pensamos sobre elas?
Você está no ônibus indo trabalhar e de repente pensamentos sobre alguém que por algum motivo lhe deixa triste ou irritado, ou que lhe manifeste qualquer tipo de desconforto, comece a aparecer na sua consciência. Automaticamente somos levados a acreditar em tudo que passa pela nossa mente.
Mesmo que alguém nos tenha traído severamente, o que se apresenta a nós como imagens naquele momento é real? Naquele instante. Sim e não. Se ligarmos a causalidade da memória, que nos ligará aos sentimentos que tivemos, sim. E como o cérebro responde às imagens que visualiza, reprojeta os sentimentos passados no corpo. Mas na realidade estamos sentado no banco, enquanto conversamos sozinhos e nos esmorecemos...
Não saber distinguir a imaginação do real é o caminho para uma vida desnutrida.