Só a música nos salva
Possuímos em nós mesmos toda a música: jaz nas camas profundas da recordação. Tudo o que é musical é uma questão de reminiscência. Na época que não tínhamos nome, devemos ter ouvido tudo.
A nostalgia da morte eleva todo o universo ao nível da música.
(E. M Cioran)
A o acordar envolto em tristeza, em sentimentos de desilusão, tédio, pessimismo essas afetações da alma que lhe afligia naquela manhã entrou no Youtube e escreveu Pink Floyd The Dark Side of the Moon e disse de si para si:
Minha alma está tão irrequieta que recorro ao Pink Floyd pra ver se ela se acalma sei que é difícil domar a insatisfação, mas ao menos a Pink Floyd pode amenizar o vazio, e a solidão. Em seguida dá um clique e começa a ouvir a música Us and Them, do álbum The Dark side of the Moon, e diz de si para si essa música me tranqüiliza é meu analgésico para quando a alma não quer se aquietar dentro do corpo; aliás, todo o álbum lendário me apraz, me eleva ao sublime e cada vez que o vazio e a solidão me ameaçam e nos momentos em que a insatisfação chega forte, beira ao insuportável, tudo parece carecer de sentido, está por um fio, nada mais interessa e o céu ameaça desabar sobre minha cabeça recorro a essa música. Ouvir Us and Them é como tomar antidepressivo e sentimentos de autoperdão, de autocompreensão e vontade de viver começam a se sobrepor ao vazio existencial e ao tédio. De maneira que me acalmo sob os efeitos sonoros que passam a atuar em meu corpo minha mente como um narcótico, o céu negro parece ficar mais azul do que era, e não me vejo dominado por sensações angustiantes. Sei que se pudesse não teria feito escolhas a que fui impelido a fazer, mas quem sabe quem é quem? Nesse mundo tão louco, onde ficamos em círculos concêntricos indo e vindo alheios a nossa vontade, afinal sou apenas um homem comum, igual a tantos que acorda sem saber ao certo qual o sentido da existência se é que haja algum. Ao ouvir aquela música esqueço as representações mentais que me causam dor e angústia, não penso nesse país conturbado com seus problemas sociais e políticos irresolutos. A música e a arte no geral me faz esquecer por uns momentos esse mundo tão conturbado que me afeta tanto, mas sou também afetado por mim mesmo, pelos meus fantasmas, pesadelos interiores, dilemas particulares. Sei que sob os domínios da música tudo fica suave a mente se esvazia e me reanimo. Minha mente tão irrequieta às vezes ameaça fugir, largar meu corpo à deriva, ela deseja viajar, ir longe! Mas meu corpo está apegado a terra, preso em enredos fixada como raiz num lugar que não é o que desejaria estar; Mas o fato é que quando o mundo ameaça cair sob os meus pés ouço Pink Floyd e viajo nessas ondas sonoras tão benfazejas; Confesso que não ouço essa banda há muito tempo, o fato é que preciso desta nostalgia desse lirismo sóbrio e dessa parada no tempo esse outro tempo que ela induz. O mundo não anda nada bem, mas quando ele esteve? Sempre houve ao longo da história mortes violências, estupros, assassinatos, barbáries de toda espécie. O homem jamais será plenamente feliz, aliás, ele está condenado a ser livre, mas nunca feliz.
Depois pensar estas coisas lembrou do livro a Montanha Mágica de Thomas Mann, mas precisamente do diálogo entre Hans Carstop e Lodovico Settembrini onde o tema é a música. Para Settembrini o personagem do livro de Mann a música é politicamente Suspeita.
E narrou o famoso diálogo entre Hans Carstop e Setembrinni:
– O senhor chega tarde ao concerto, Sr. Settembrini. Já está quase no fim. Não gosta de música?
– Por ordem superior, não – replicou Settembrini. – Nem quando é ditada pelo calendário. Não simpatizo com ela, quando tem um cheiro de farmácia e me é ministrada pelas autoridades para fins sanitários. Estimo ainda um pouco a minha liberdade, ou pelo menos aquele restinho de liberdade e dignidade humana que sobra a gente como nós. Em ocasiões como esta, costumo comparecer como visitante (...). Fico durante um quarto de hora e depois vou-me embora. Isso me dá a ilusão de independência... (...) A música? Representa ela tudo o que existe de semi-articulado, de duvidoso, de irresponsável, de indiferente (...) é perigosa porque induz a gente à complacência satisfeita... (...) Aparentemente a música é toda movimento, e contudo suspeito nela o quietismo. Permita que eu leve a minha tese ao exemplo: tenho contra a música uma antipatia de caráter político.
E depois de reproduzir o diálogo falou:
- Pois, ao contrário de Setembrinni, o espirituoso personagem de Thomas Mann, não tenho nenhuma suspeita sobre a música ela é o que é e pronto tem um efeito benéfico sobre mim, sabe, embora possa ser utilizada para fins pouco nobres, para persuadir, para qualquer coisa, mas ainda assim acima de tudo é música, se ela me induz a “complacência satisfeita” ainda bem, ao menos posso através dela e dos seus efeitos me acalmar no instante em que se propaga sobre mim e os seus efeitos se espalham sobre meu corpo entediado com o vazio que só a música preenche. E quando estou bem quieto ouço música judaica, ah essa música ela me acalma totalmente, confesso, me acalma de modo que os sentimentos difusos são recompostos e assim vou me acalmando e aos poucos estou no meu centro, em minha integridade de ser e de estar no mundo com todas as suas mazelas, reais e imaginárias, ah! A música, Como bem afirma o filósofo Emil Cioran, “meditação musical deveria ser o protótipo do pensamento em geral. Que filósofo alguma vez seguiu um motivo até seu esgotamento, até seu limite extremo? Só em música há pensamento exaustivo. Mesmo depois de ler os filósofos mais profundos, experimentamos a necessidade de voltar a começar. Só a música nos dá respostas definitivas."
Só a música salva do vazio, do tédio, da solidão, da depressão, das agruras do dia, só a música esse antidepressivo poderoso e potente, sofro do seu absolutismo me refugio nela e com ela minhas couraças se quebram " A música é o refúgio das almas feridas pela felicidade”.
E em seguida ao som do Pink Floyd tomou um xícara de café fumou cigarro e pensou que se há salvação, ela só se dá no plano da arte e só a música salva das agruras da existência . A boa música claro.
Possuímos em nós mesmos toda a música: jaz nas camas profundas da recordação. Tudo o que é musical é uma questão de reminiscência. Na época que não tínhamos nome, devemos ter ouvido tudo.
A nostalgia da morte eleva todo o universo ao nível da música.
(E. M Cioran)
A o acordar envolto em tristeza, em sentimentos de desilusão, tédio, pessimismo essas afetações da alma que lhe afligia naquela manhã entrou no Youtube e escreveu Pink Floyd The Dark Side of the Moon e disse de si para si:
Minha alma está tão irrequieta que recorro ao Pink Floyd pra ver se ela se acalma sei que é difícil domar a insatisfação, mas ao menos a Pink Floyd pode amenizar o vazio, e a solidão. Em seguida dá um clique e começa a ouvir a música Us and Them, do álbum The Dark side of the Moon, e diz de si para si essa música me tranqüiliza é meu analgésico para quando a alma não quer se aquietar dentro do corpo; aliás, todo o álbum lendário me apraz, me eleva ao sublime e cada vez que o vazio e a solidão me ameaçam e nos momentos em que a insatisfação chega forte, beira ao insuportável, tudo parece carecer de sentido, está por um fio, nada mais interessa e o céu ameaça desabar sobre minha cabeça recorro a essa música. Ouvir Us and Them é como tomar antidepressivo e sentimentos de autoperdão, de autocompreensão e vontade de viver começam a se sobrepor ao vazio existencial e ao tédio. De maneira que me acalmo sob os efeitos sonoros que passam a atuar em meu corpo minha mente como um narcótico, o céu negro parece ficar mais azul do que era, e não me vejo dominado por sensações angustiantes. Sei que se pudesse não teria feito escolhas a que fui impelido a fazer, mas quem sabe quem é quem? Nesse mundo tão louco, onde ficamos em círculos concêntricos indo e vindo alheios a nossa vontade, afinal sou apenas um homem comum, igual a tantos que acorda sem saber ao certo qual o sentido da existência se é que haja algum. Ao ouvir aquela música esqueço as representações mentais que me causam dor e angústia, não penso nesse país conturbado com seus problemas sociais e políticos irresolutos. A música e a arte no geral me faz esquecer por uns momentos esse mundo tão conturbado que me afeta tanto, mas sou também afetado por mim mesmo, pelos meus fantasmas, pesadelos interiores, dilemas particulares. Sei que sob os domínios da música tudo fica suave a mente se esvazia e me reanimo. Minha mente tão irrequieta às vezes ameaça fugir, largar meu corpo à deriva, ela deseja viajar, ir longe! Mas meu corpo está apegado a terra, preso em enredos fixada como raiz num lugar que não é o que desejaria estar; Mas o fato é que quando o mundo ameaça cair sob os meus pés ouço Pink Floyd e viajo nessas ondas sonoras tão benfazejas; Confesso que não ouço essa banda há muito tempo, o fato é que preciso desta nostalgia desse lirismo sóbrio e dessa parada no tempo esse outro tempo que ela induz. O mundo não anda nada bem, mas quando ele esteve? Sempre houve ao longo da história mortes violências, estupros, assassinatos, barbáries de toda espécie. O homem jamais será plenamente feliz, aliás, ele está condenado a ser livre, mas nunca feliz.
Depois pensar estas coisas lembrou do livro a Montanha Mágica de Thomas Mann, mas precisamente do diálogo entre Hans Carstop e Lodovico Settembrini onde o tema é a música. Para Settembrini o personagem do livro de Mann a música é politicamente Suspeita.
E narrou o famoso diálogo entre Hans Carstop e Setembrinni:
– O senhor chega tarde ao concerto, Sr. Settembrini. Já está quase no fim. Não gosta de música?
– Por ordem superior, não – replicou Settembrini. – Nem quando é ditada pelo calendário. Não simpatizo com ela, quando tem um cheiro de farmácia e me é ministrada pelas autoridades para fins sanitários. Estimo ainda um pouco a minha liberdade, ou pelo menos aquele restinho de liberdade e dignidade humana que sobra a gente como nós. Em ocasiões como esta, costumo comparecer como visitante (...). Fico durante um quarto de hora e depois vou-me embora. Isso me dá a ilusão de independência... (...) A música? Representa ela tudo o que existe de semi-articulado, de duvidoso, de irresponsável, de indiferente (...) é perigosa porque induz a gente à complacência satisfeita... (...) Aparentemente a música é toda movimento, e contudo suspeito nela o quietismo. Permita que eu leve a minha tese ao exemplo: tenho contra a música uma antipatia de caráter político.
E depois de reproduzir o diálogo falou:
- Pois, ao contrário de Setembrinni, o espirituoso personagem de Thomas Mann, não tenho nenhuma suspeita sobre a música ela é o que é e pronto tem um efeito benéfico sobre mim, sabe, embora possa ser utilizada para fins pouco nobres, para persuadir, para qualquer coisa, mas ainda assim acima de tudo é música, se ela me induz a “complacência satisfeita” ainda bem, ao menos posso através dela e dos seus efeitos me acalmar no instante em que se propaga sobre mim e os seus efeitos se espalham sobre meu corpo entediado com o vazio que só a música preenche. E quando estou bem quieto ouço música judaica, ah essa música ela me acalma totalmente, confesso, me acalma de modo que os sentimentos difusos são recompostos e assim vou me acalmando e aos poucos estou no meu centro, em minha integridade de ser e de estar no mundo com todas as suas mazelas, reais e imaginárias, ah! A música, Como bem afirma o filósofo Emil Cioran, “meditação musical deveria ser o protótipo do pensamento em geral. Que filósofo alguma vez seguiu um motivo até seu esgotamento, até seu limite extremo? Só em música há pensamento exaustivo. Mesmo depois de ler os filósofos mais profundos, experimentamos a necessidade de voltar a começar. Só a música nos dá respostas definitivas."
Só a música salva do vazio, do tédio, da solidão, da depressão, das agruras do dia, só a música esse antidepressivo poderoso e potente, sofro do seu absolutismo me refugio nela e com ela minhas couraças se quebram " A música é o refúgio das almas feridas pela felicidade”.
E em seguida ao som do Pink Floyd tomou um xícara de café fumou cigarro e pensou que se há salvação, ela só se dá no plano da arte e só a música salva das agruras da existência . A boa música claro.