INFÂNCIA.

Em tempos idos, lembro um curral de varas, vacas soltas no terreiro da casa e muita lama, mas eu tranquilamente sentada numa pedra tomava meu leite com açúcar ainda morno, enquanto observava o trabalho dos vaqueiros... Uma pele de vaca em cima de um cavalete e eu tentando segurar uma garrafa de vidro com leite para alimentar um bezerro órfão. Entrava em casa comia meu cuscuz e saia em disparada com meu cachorro atrás a brincar com tudo que tinha a minha frente, um pouco mais tarde pegava um papeiro cheio de farinha e entrava na leiteira gritando vim pegar a rapa que coisa gostosa, logo mais um banho na barragem foi ai que aprendi a nadar minhas bóias eram pendões de agave, tudo saia da criatividade e do seio da natureza ela nos presenteia com coisas incomparáveis e maravilhosas. Logo mais pegava a mala com brinquedos e ia casinha simples e aconchegante de minha vizinha me juntava com a amiga, e numa cangalha com quatro ancoretas num jumento saia para buscar água 3 km não nos cansava, nesta simples casinha conheci o café torrado, a fava. O quiabo e muitas coisas que ela fazia apenas para me agradar nas noites de maio admiravam-me a vê-la falar em latim, não entendia nada. a tarde começava novamente pelo curral , após isso andar de bicicleta livre ao sabor do vento, e quando o sol ia baixando, a estrada começava a vigiar e quando avistava papai voltando do roçado com a enxada no ombro um cabaço pendurado no cabo da enxada disparava numa carreira a abraçá-lo, vinha suado e cansado mas aquele abraço me dava me colocava na corcunda e juntos chegávamos a casa, um banho ele tomava e com os filhos ia brincar uma peteca de palha de milho, uma perna de pau, uma vara entre os dedos por aí o dia findava não havia nem televisão nem computador e nada disso compensaria aquelas brincadeiras. Sob a luz de candeeiros dávamos formas às imagens, ouvíamos histórias de malazartes, gata borralheira, carros dentro de melancias, eram sonhos e fantasias, às vezes sobre as luzes de lampiões jogávamos buraco eu e mamãe e meus irmãos. era as duplas inseparáveis. Por vezes mamãe inventava um pastoril e menina levada que era sempre queria que o cordão azul fosse melhor fui borboleta, camponesa. E sempre digo cordão azul sempre foi e sempre é cordão encarnado tá debaixo do meu pé, de tudo participei com crianças da comunidade, a longa história nessa jornada isso me ensinou a valorizar as pessoas independentemente da sua classe social cor e sexo e a respeitar suas escolhas e direitos, acredito que foi também essa convivência com pessoas simples que me faz ver o mundo pelo prisma de superação, ainda criança lembro-me de mim fazendo os “dever de casa” dos filhos dos vaqueiros que se acumulavam até que eu chegasse de Campina Grande para fazê-los, lendo as cartas que também me esperavam. Hoje olho para estas pessoas e digo vocês me ajudaram a crescer, a conquistar e a sonhar, resta-me apenas retribuir com tudo que aprendi.

Nanci Duarte

13/06/2014

Nanci Duarte
Enviado por Nanci Duarte em 14/07/2016
Código do texto: T5697289
Classificação de conteúdo: seguro