Remorsos

Como é interessante, impressionante, e decepcionante a falta de paciência que quando jovem reclamei, exigi e implorei.

Ela recai, retorna, e se mostra também em mim.

Tudo é de fato, um eterno retorno.

Buscamos ser diferentes, porém, aprendemos com quem, por vezes, não queremos imitar.

Tudo que julgamos imposição, ditadura, repressão, devolvemos com outros contextos, talvez mais coloridos, dinâmicos, ou plausíveis; no entanto, tudo é exatamente igual.

Com quem aprendemos a arte de educar?

Quem nos ensinou sobre certo e errado?

Tentamos fazer sempre diferente; porém, ao menor sinal de stress, ou descontrole emocional de nossa parte, somos arrebatados pelos mesmos "erros" de nossos predecessores.

Tudo que com eles aprendemos será colocado em prática, ao menor sinal de fraqueza.

Queria muito que meu pai me tivesse ouvido; afinal, hoje, também sou pai e confesso, por vezes, me peguei tentando fugir dessa responsabilidade.

O medo é inerente de todos os seres humanos, a fraqueza, o claudicar; mas, se queremos de fato mudar o nosso entorno, então, devemos submeter-mo-nos ao novo, a algo ainda impensado, diferente, visto que, tudo que fizemos, conhecemos e continuamos fazendo, não tem tido um bom resultado.

O fato de sermos adultos não nos qualifica para sermos pais, nem responsáveis por ninguém. Nossos filhos estão tão à nossa frente, que, mesmo sem experiência alguma de vida (algo sobre o que nos gabamos) perceberam por si sós. Nossa soberba não permite com que haja um diálogo, somos sempre nós que falamos, é um verdadeiro monólogo. Parece que nos esquecemos de nossos pedidos da infância e adolescência, onde, tudo que queríamos era sermos ouvidos.

Me pego por inúmeras vezes sem paciência, e, algum tempo depois, bate-me um enorme remorso, sinto que meu velho pai faz mais parte de mim que jamais poderia supor, caso eu não fosse um pai ainda.

Esquecemo-nos de tudo que reivindicamos, esquecemos como é enfadonho, massante, chato e constrangedor aqueles longos sermões, os mesmo que hoje, conscientes ou não, insistimos em repetir, esquecemos que também nós, queríamos sim limites, porém, nunca uma imposição, esquecemos de como era gratificante o orgulho nos olhos dos nossos velhos pais, quando ao mostrar-lhes o boletim escolar, mesmo que "raspando", ainda assim, nenhuma nota vermelha o "manchava", esquecemos de agradecer, elogiar, confortar, esquecemos de proteger, ensinar e amar.

Talvez esse seja o ponto chave que comprova o nosso despreparo no cuidado de nossas crianças, esquecemos, não sabemos mais o que é essa maravilhosa fase. Hoje somos velhos, recalcados, mal compreendidos, ranzinzas, e até rabugentos, afinal, fomos transformados em adultos mirins, nossa infância nos foi tirada abruptamente, de forma truculenta, tão feroz, que sequer nós mesmos podemos supor como ela teria sido, temos, talvez, medo, ou, nem isso temos mais.

Hoje somos adultos, com grandes trabalhos e responsabilidades, ao menos, é nisso que acreditamos, ou queremos acreditar, não temos mais tempo para diversões, olha, aí está, será que encontrei nosso "vilão?"

Teria sido o tempo o assassino das crianças que ainda deviam existir em nós?

E por que querer encontrar um culpado?

Isso é mais uma prova da nossa total incapacidade para com os pequeninos, afinal, se não assumimos nossos próprios erros, como podemos condenar, uma vez que adultos, somos dotados da capacidade intelectual, do discernimento entre certo e errado, e a criança ainda não?

Quem deu-nos essa autoridade sobre elas, e por que?

Paulo Francisco dos Santos
Enviado por Paulo Francisco dos Santos em 05/07/2016
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