Folha em branco

Quando seus olhos fecham no escuro noturno

Acalmando todas as vozes do desatino sigiloso

Retirando aquela máscara que te mantém firme

Tornando você aquele ser irresoluto de sempre

Somente mais um rosto na lembrança de alguém

Transformando você em um fardo difícil de carregar

Mal consegue pensar na sinceridade do momento

Em todas as mágoas e as lamúrias da alma

Um artista desconhecido que esqueceu suas falas

Que apagou todos os personagens idealizados

Que não precisam estar presente em nenhuma história

Pois não existem páginas suficientes para as suas tristezas

E nem palavras compreensíveis para descrevê-las

Um instrumento desafinado que acaba com a harmonia

Regido por um desejo incontrolável de apagar o passado

Descobre-se cara a cara com o seu único e pior inimigo

A sua imensurável e desoladora solidão interior

Que habita cada fragmento do seu pequeno mundo

E que fragiliza cada tentativa de construir algo

Estando sozinho em um lugar destruído e devastado

Não importa se você estiver certo ou errado

Você sempre encontrará as portas fechadas

Quando mais precisar desta passagem segura

O frio de agora congela todos os sentimentos

Você não tem mais controle sobre as suas palavras

Sente que tudo faz parte de um ideal maior

Um anseio nobre sem objetivo declarado

Um plano quase perfeito da ilusão aparente

Uma zona abissal que foi perdida na alma

Uma cicatriz escondida, mas pulsante e vivida

Que carrega uma parte das recordações

Memórias que não se apagam com o tempo

Você deseja acordar desse pesadelo interminável

Mas sabe que a realidade está deplorável

Pois você consegue ver aonde está cada mentira

Cada erro que se perdeu ao longo do caminho

Aquelas pessoas que só mostram que você está certo

Pois algumas coisas não valem a pena manter

A vida é mera coincidência e nenhuma sorte

Uma folha em branco e uma caneta em suas mãos

Onde a moeda de troca mais importante é o interesse

Alguns até conseguem chamar de sobrevivência

Mas mesmo assim da pra sentir a hipocrisia no olhar

Todos que fogem acabam se afundando na lama

Com o peso de todos aqueles seus pecados ilusórios

Que estão na cabeça de quem se acha exemplar

E se deixam atingir por bobagens pragmáticas

Palavras cheias de ignorância e rancor de eras

Quando a solidão bater na sua porta em um dia azul

Finja que não está em casa e continue do seu modo

Que bom seria se todos tivessem essa oportunidade

Pois as escolhas que definem algumas pessoas

Tornam-se obrigações para os outros esquecidos

E nem mesmo todo o tempo de uma vida

Consegue amenizar essa triste verdade

kdu
Enviado por kdu em 04/07/2016
Código do texto: T5687295
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