Bilhetes de Verônica (10)
- Eu não disse?
- Ah! Verônica, ele é mesmo maravilhoso! Pode acreditar! Não é perfeito, eu sei, mas são tantas qualidades! Nunca encontrei alguém que me fizesse tão feliz!
- Clara, não seria melhor amar o ser humano que ele certamente é?
- Você não entende...
- Tem razão! Não entendo mesmo!
A felicidade de Clara, como a maioria das felicidades, durou alguns meses apenas. O tempo necessário para que as brumas gentis que envolviam o príncipe fabuloso se dissipassem à luz do Sol da realidade. E da nobreza maior, aquele cavaleiro desceu ao chão dos comuns! A vítima apaixonada relutou, procurou manter suas ilusões, mas a inevitabilidade da razão fincara suas raízes e, onde havia perfeição, colhiam-se as frutas azedas do desapontamento. O rapaz, normal em sua juventude, encontrara outras donzelas suspirantes e sua fidelidade não se fazia firme o suficiente para sustentar a monogamia. Tornou-se inventivo em desculpas a justificar suas ausências. Até que se esgotou o rol de argumentos ou sua paciência, ou ambos. E parou de se importar e de cumprir combinados. Restava mesmo acordar!
Encontrei-a chorando. Contudo, sua decepção lhe pertencia, não ao namorado traidor. Não fora ele que a iludira. Sempre deixou à mostra a sua humanidade; mas o coração de uma mulher, entorpecido por um romantismo que chega a me parecer genético, se rende incapaz de perceber as armadilhas dos sentimentos. Pedi-lhe, antes, que o enxergasse em suas falhas; que até se entregasse, mas consciente de seu mergulho em águas turbulentas.
- Poxa, Verônica, por que ele fez isso comigo?
- Porque ele é humano, já lhe falei várias vezes!
- É humano magoar?
- Não! É humano cometer erros...
- Então você pelo menos concorda que ele errou ao me trocar assim por outras!
- Não está aí o engano! Sua falha foi não lhe fazer entender que ele não estava pronto para amar de forma exclusiva.
Telefonou-me uns dois dias depois. Encontrara o bilhete que deixei discretamente no bolso de seu casaco.
- É... você me disse! E sabe o que é pior ainda? Eu sabia!
- Eu não disse?
- Ah! Verônica, ele é mesmo maravilhoso! Pode acreditar! Não é perfeito, eu sei, mas são tantas qualidades! Nunca encontrei alguém que me fizesse tão feliz!
- Clara, não seria melhor amar o ser humano que ele certamente é?
- Você não entende...
- Tem razão! Não entendo mesmo!
A felicidade de Clara, como a maioria das felicidades, durou alguns meses apenas. O tempo necessário para que as brumas gentis que envolviam o príncipe fabuloso se dissipassem à luz do Sol da realidade. E da nobreza maior, aquele cavaleiro desceu ao chão dos comuns! A vítima apaixonada relutou, procurou manter suas ilusões, mas a inevitabilidade da razão fincara suas raízes e, onde havia perfeição, colhiam-se as frutas azedas do desapontamento. O rapaz, normal em sua juventude, encontrara outras donzelas suspirantes e sua fidelidade não se fazia firme o suficiente para sustentar a monogamia. Tornou-se inventivo em desculpas a justificar suas ausências. Até que se esgotou o rol de argumentos ou sua paciência, ou ambos. E parou de se importar e de cumprir combinados. Restava mesmo acordar!
Encontrei-a chorando. Contudo, sua decepção lhe pertencia, não ao namorado traidor. Não fora ele que a iludira. Sempre deixou à mostra a sua humanidade; mas o coração de uma mulher, entorpecido por um romantismo que chega a me parecer genético, se rende incapaz de perceber as armadilhas dos sentimentos. Pedi-lhe, antes, que o enxergasse em suas falhas; que até se entregasse, mas consciente de seu mergulho em águas turbulentas.
- Poxa, Verônica, por que ele fez isso comigo?
- Porque ele é humano, já lhe falei várias vezes!
- É humano magoar?
- Não! É humano cometer erros...
- Então você pelo menos concorda que ele errou ao me trocar assim por outras!
- Não está aí o engano! Sua falha foi não lhe fazer entender que ele não estava pronto para amar de forma exclusiva.
Telefonou-me uns dois dias depois. Encontrara o bilhete que deixei discretamente no bolso de seu casaco.
- É... você me disse! E sabe o que é pior ainda? Eu sabia!