Pedido.

Antes de nascer, sentei no colo de Deus e pedi:

- não me permita sofrer por falta de amor...

Confuso e insatisfeito ele me sorriu

como sorriem os pais, ao saberem

que jamais serão capazes de responder

aos desejos de seus filhos

mesmo que queiram...

Mas mesmo assim falou:

num sorriso manso como a brisa d'aquela hora,

_ Que seja feita a sua vontade filha

mesmo que tu jamais compreendas

minhas maneiras de agir.

e vim, sem querer vir

e cheguei e implorei para voltar...

sufoquei sem ar,

a prematuridade daquele corpo

me deixava uma porta aberta para voltar

chorei, pedi tanto...

ninguém me ouviu.

Fiquei

Confusa e insatisfeita o chamei

- Porque me abandonaste aqui?

não quero assim pai...

Nada adiantou, nada funcionou

continuei...

Cresci, aprendi a gostar de coisas que nunca imaginei

um anjo que se dizia meu pai, me enfiou livros pelos olhos

ouvidos e poros, só ai respirei...

E ele, com mãos de cirurgião

me plantou em sua biblioteca,

virei muda e mudei

Ao menos algo funcionou.

Comecei a escrever os sentimentos

e saí da lama tóxica das minhas observações...

Pari frutos

os vi amadurecer

hoje, eles mesmos frutificam

sou só uma raiz de folhas

Mas algo ainda me incomoda

me trava a glote e engasga

não sei o que Deus entendeu

quando eu o pedi para não sofrer

de falta de amor

Ele me deu tanto amor

vindo de tantos veios

e eu virei ribanceira

de cachoeira de amor

Mas, e se essa porra não funcionar?

- Do que valeu ?

Márcia Poesia de Sá.

Márcia Poesia de Sá
Enviado por Márcia Poesia de Sá em 28/06/2016
Código do texto: T5681215
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