O mundo tem o tamanho da minha visão.
Quando criança meu quintal era uma cidadela inexpugnável.
Organizei estratégias, realizei batalhas que duraram séculos nas poucas horas que minha imaginação elástica teve a permissão da criatividade para superá-la. Não houve mortos nem feridos. Apenas a dádiva da imortalidade em manhãs ensolaradas no pátio de minha casa, ou do meu vasto reino. O céu podia esperar sem pressa. Concedi glórias, aniquilei a soberba de invasores, desfrutei de conquistas, eternizei epopéias.
Hoje o mundo é pequeno. Muito pequeno. Não é mais um quintal. Tem o tamanho do meu quarto. Nesse quarto cabe a Europa, a Ásia, a África... todo longínquo espaço imaginável e inimaginável. Percorri os quatro cantos do mundo... e o meu quarto sempre esteve comigo; dimensionando meus sonhos, fortificando serenamente meus rituais de passagem para a realidade.
Como o mundo é pequeno! Por mais que eu caminhe, as distâncias se encurtam, o tempo se esvai como neve ao sol.
Não sou pródigo. Apenas um filho que cansou de rejeitar a comida dos porcos e quer voltar pra casa mesmo que descalço. Meu apetite é cronofágico. Consumo a mim mesmo segundo a segundo. Ainda a pouco... ainda é pouco, ainda é tic... ainda é tac.
As trilhas causam sulcos profundos na consciência. No regaço, no fundo da floresta que há em mim, ainda me resta uma ante-sala guardada a sete chaves; chaves essas perdidas por debaixo de alguma distraída saudade.
Como é minúsculo esse mundo! Como é maiúsculo o mistério que o interpenetra. Abraçá-lo é tarefa para gigantes. Rondas e rondas solares passam sem feriado cósmico.
Sem descanso a roda gira e eu a observo sem ser seu servo.
Olho para o campo de batalha que ficou para trás e meus olhos pesam como chumbo.
O chumbo do sono; do sono que me faz sonhar; do sonho que me torna lúcido ao despertar.