Todos nós precisamos viver
Todos nós precisamos viver, isto é, ir além de sobreviver, de levar adiante uma semivida. Embora não saibamos dar o significado exato de "viver", podemos dizer que sentimos quando não estamos realmente vivendo, pois a nossa intuição, consciência ou sabedoria espiritual sempre dá umas pistas que nos mostram que nossa vida não está sendo vivida: insatisfação, esgotamento, falta de perspectivas e a sensação de que falta algo. Outro problema é quando um dia nos deparamos com a realidade que vivemos e lembramos dos sonhos que costumávamos acalentar, da paixão e entusiasmo que nos moviam. Então, nós nos perguntamos o que aconteceu com nossos sonhos e a pessoa que um dia fomos. Terá nossa força morrido? Ou será que não éramos tão fortes e destemidos quanto acreditávamos? Como fazer para realmente viver? Quando crianças, tudo que queremos é viver, somos movidos por sonhos fantásticos, acreditamos que é possível mudar o mundo e viver conforme nossos ideais, mas frequentemente vamos sendo podados aqui e ali por afirmações do tipo: "a vida é dura", "deixe de sonhar besteira, ponha os pés no chão" e "prepare-se para enfrentar a realidade". Afirmações desse tipo podem minar o nosso entusiasmo, pondo em nós a noção de que a vida deve se limitar a trabalhar duro para se sustentar. Certo, todos nós precisamos trabalhar para garantir nosso sustento. E ninguém poderá viver sem condições dignas de subsistência, como podemos constatar ao ver as pessoas que são vítimas da injusta distribuição de renda. Porém, viver tem que ir além de correr para garantir a sobrevivência. Viver envolve termos ideais e sonhos, sentirmos entusiasmo pelo fato de estarmos vivos, cultivarmos bons relacionamentos, darmos significado aos nossos dias, participarmos do que acontece no mundo... Enfim, viver é complexo, visto que envolve uma infinidade de fatores. E ninguém deveria experimentar a sensação, por mínima que fosse, de que está vegetando, suportando uma semivida. Toda pessoa é para viver plenamente, seja ela rica ou pobre, bonita ou feia, culta ou inculta. Viver é para todos. Seria muito bom que todos os filhos crescessem em lares saudáveis, cujos pais jamais os fizessem se sentir inadequados, dando-lhes a entender que "não são bons o bastante" ou que "deveriam ser de um jeito ou de outro". Nenhuma pessoa que tenha crescido num lar doentio terá uma perspectiva adequada de si mesma e da vida, o que afetará a forma como ela vê o mundo e as outras pessoas, levando-a a tomar atitudes que a afastarão de viver de verdade. Para viver, também é preciso que tenhamos coragem, arrisquemo-nos, ousemos ir além de nossas perspectivas e saiamos do conhecido, indo até o desconhecido. É necessário que alimentemos os sentimentos bons, como a esperança e o amor, acreditemos na justiça e que a vida plena é para todas as pessoas, lembrando que nenhuma pessoa desprovida de bons sentimentos entende o que é a vida. Nós só saberemos o que é viver se formos solidários uns com os outros e nos olharmos além das diferenças, vendo-nos como seres humanos dotados de sentimentos, da capacidade de amar e da necessidade de amar e sermos amados.