Surto do irreal

Eis que tudo parece muito anormal diante dos meus olhos... Mas, Marina, essa é a vida. Então lhe pergunto: o que você entende como viver? Fala sério, você é uma completa maluca!

Grande parte das pessoas olham tudo e conseguem enxergar perfeita normalidade, acham o mundo um completo Jardim do Éden – até concordo em parte, que cabe a fantasia e ficção, apenas. Pera lá, o que tem de lindo nisso tudo? A gente cresce e começa a descobrir que o mundo é um grande cenário teatral, com personagens, lugares, interpretações, sensações, medo... fantasias. Tudo é uma perfeita farsa e delírios. Acho que entendo um pouco melhor da frase (A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos) de Claplin depois de um surto psíquico que tive por hora. Coitado, uma frase para metaforizar com a vida, que as pessoas colocaram na ponta da língua, que se acham no direito de colocar em qualquer status – aliás, só isso importa nos dias atuais – que encontram por aí. Sabe para que? Apenas dizer-se filósofo e pensador: parabéns.

Serei perfeitamente insensível com essa ideia, mas acho que no momento não me importo. Ninguém sequer refletiu sobre a profundeza de tal ortografia – não me excluo de tal fato e culpo-me também... quantas vezes já não o fiz?, simplesmente pegou-a e tacou em qualquer lugar no intuito de dizer “conheço esse tal Chaplin” ou até mesmo de querer dizer “algo bonito”. Pera lá, minha gente... Quem escreve não está se importando com o fator beleza: “nossa, vou colocar isso porque está bonito”. Minimamente quem escreve tende a expressar em palavras sentimentos dos mais obscuros, que requer muita calma e paz interior para interpretar e chegar, ao menos, perto, porque chegar exatamente ao ponto que o escritor estava pensando é impossível. Quando o mundo resolve jogar a palavra “interpretar” aos quatro ventos, ele não está o fazendo, apenas está o dizendo. Mergulhar e sentir no âmago cada palavra que ali foi escrito é fundamental, até mesmo porque, quando algo é escrito posso dizer, pelo menos por mim, que não é exatamente a pessoa que assina, ao final do texto, a mesma que o escreveu. Digamos que escrever é um estado de êxtase. Aliás, é uma droga que muitos tem receio de provar, e condenam.

Mas o que eu de fato estava querendo dizer? Ah, sim, claro! Chaplin, frase, a vida, fantasia... Depois desse surto incontrolável – após anos sem um, eis que me deparo, finalmente, com uma profunda reflexão: realmente somos o que queremos ser?

Olho para esse mundo que está se afundando de maneira tão devastadora e avassaladora. A vida está se perdendo, tudo está sem sentido... São, literamente, pré conceitos, são achismos baratos, são discórdias em vão. Isso só tende a piorar. Nós somos uma fábrica num sistema fordista (já que temos que dar nome aos bois). Nascemos, somos instruídos e direcionados ser alguma COISA, depois essa COISA, é vendida a um mercado e, então, descartada como uma inutilidade. “Ah, mas não seja injusta, e o tanto de contribuição que damos, tantos ensinamentos, aprendizados... e também não descartado, nós fazemos tudo isso para poder ter um conforto depois”. Poupe-me. Você acha isso porque é isso que querem que você pense, simples. A vida tem que ser aproveitada a todo e qualquer momento, ela é areia em peneira, passa rápido. E o que fazem quando somos descartados, é tipo aquele vaso que era da sua avó e você fica com pena de jogar fora, mas quando ele quebra dá graças a deus por poder se livrar. “Peraí, cara, você está sendo radical... nós temos um leque de opções para viver, uns se identificam mais com certos lados outros não”. Presta atenção, sabe o que tem de diferente? Quando a COISA é direcionada, ela tem a opção de escolher entre triângulo, quadrado e circulo. E sabe o que acontece? Às vezes, elas percebem que não têm o encaixe perfeito... ficam mais folgadas, se espremem para passar, olha pro lado e veem que existem outras formas como losango, pentágono... E aí? Como elas fazem? Ficam sem se encaixar? Por vezes, sim, aliás, na maior parte delas.

O ser humano é um objeto, é algo, é alguma COISA: é coisificado.

Muitas coisas me chamam atenção... Qual é o sentido de tudo que está acontecendo? Será que se as pessoas tivessem tempo para ocupar a cabeça descobrindo o que é a vida real, elas continuariam com essas maluquices todas? Todos querem viver num grande Anfiteatro, cada um na sua bolha, vendo tudo distorcido lá de dentro. Há conflito em cada cena, todos são protagonistas, mas ninguém sabe o que tá acontecendo com o outro, mas todos querem estar um dentro do espaço do outro para fazer mais bonito. Acordem! Estourem essas bolhas, vejam que há anfiteatro para todos, vejam que a poluição mental está nessas bolhas. A vida está sendo apenas palco para os destroços da ficção, que não são carregados de fantasias e nem de sonhos. Nós não somos o que queremos, nós tentamos ser o que os outros querem que sejamos. Isso é uma barbárie!

BARBÁRIE.

Sinceramente? Acho que me perdi no meu surto. Muitas coisas rodearam minha mente... e vós afirmo: não foi a Marina quem escreveu... foram os sentimentos mais profundos e obscuros. Mais uma vez volto a essa reflexão. Nada do que está acontecendo está certo. Percebam a frieza dos fatos, a frieza dos que em Gaia habitam. Talvez possa até ser isso, achar que somos únicos, que não existe mais alguém. São homens em guerra e conflitos com a própria existência.

Chaplin, querido, perdoe-me por te colocar no meio de tantas palavras soltas e embaralhadas, talvez até sem sentido. Quis apenas mostrar que estamos vivendo essa frase, mas exatamente do jeito que ela não demonstra. Ninguém está cantando, ninguém está chorando, ninguém está dançando, ninguém está rindo e ninguém está vivendo intensamente, mas todos estão com as cortinas fechadas e sem aplausos. A vida continua uma peça de teatro... cheia de roteiros. Queiramos ou não.

Imagina que louco seria poder viver.

Beatricce Hass
Enviado por Beatricce Hass em 15/06/2016
Reeditado em 15/06/2016
Código do texto: T5668460
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