Á Procura de Anjos Silenciosos
Adriana havia levantado cedo aquele dia, estava tão frio, mas ela parecia determinada...
Colocou os pés para fora do edredom e procurou com os pés os chinelos escondidos debaixo da cama...
Ficou sentada por alguns instantes enquanto puxava delicadamente os cabelos pra trás com a cabeça arqueada para baixo, seria aquele o dia?...
Colocou aquele Jeans surrado de sempre que entrava fácil nas pernas e não trocou a blusinha como de costume, já que ia colocar mais uma ou duas para disfarçar os braços...
Fez o café como de costume, sem fazer barulho, morava sozinha, mas é difícil esquecer velhos hábitos
Nunca se queixava da solidão, cantava para disfarçar, mas esperava uma ligação...
Infelizmente seus rins adoeceram a alguns anos, nos primeiros 5 anos não havia nada de mais, afinal de contas 2 vezes por semana 2 ou 3 horas esperando a hemodiálise? Certamente gastava mais tempo observando as postagens das redes sociais...
Mas os anos passaram, e as seções se tornando mais freqüentes...
Todos os dias a primeira coisa que fazia era observar seu telefone, uma mensagem do hospital talvez?...
Por ser tão independente detestava estar presa aquele caixote branco barulhento, atualmente quase todos os dias...
Na clínica conhecia todos daquele setor, tanto que acabou por tornar-se atendente, preenchendo as fichas e encaminhando pacientes para os médicos...
Muito simpática e cordial era sempre muito bem recomendada, os pacientes daquela ala acabaram adotando o nome que deu a máquina, “Anjinho”, que espetara seus braços tantas vezes...
Sabia da contagem, talvez todos que passavam no Anjinho faziam as contas também, quanto tempo, porcentagem, contagem...
Como quem espera uma data especial, como quem conta o tempo para chegar ou ir a algum lugar, ela esperou...
Os anos passavam...
A demora não estava na incompatibilidade, pois os remédios contra rejeição estão cada vez mais desenvolvidos e quase eliminam a rejeição por completo...
O problema é a quantidade, tanto que ordem de chegada e tipo sanguíneo passou a ser a senha da fila, uma longa fila de espera, numa ponta o recomeço, na outra partida...
Após 9 anos e meio esperando, Adriana foi internada e não conseguiu deixar o hospital do jeito que queria, caminhando...
O Anjinho da Adriana continua espetando as pessoas, maltratando, mas fazendo o necessário para dar-lhes sobrevida, colocando centenas de pessoas sentadas na espera e mantendo-as para que consigam receber um órgão...
Infelizmente isso é tudo que o Anjinho Barulhento consegue fazer, seria necessária uma quantidade maior de Anjos Silenciosos para que ele tivesse menos trabalho...
Muitos Órgãos são perdidos no meio tempo entre a morte cerebral e o convencimento de parentes, este tempo é valioso e tem o prazo de uma vida, não hesite em ajudar...
Cerca de 10% dos pacientes conseguem transplante, cerca de 15% morrem esperando...
Os outros 75% dependem do o Anjinho Barulhento e esperando um milagre que você pode fazer...
Doe Órgãos, Compartilhe a Vida...
Abaixo o Link de um site para esclarecer dúvidas comuns:
http://drauziovarella.com.br/letras/t/transplante-de-rins-2
“Por menor que seja a centelha de luz, esta tem poder de iluminar a mais densa escuridão”...