A origem da consciência no ser
1 - O ponto de vista
Ver alguma coisa é algo de extrema responsabilidade de quem viu. Ao lançar teu olhar sobre algo, tu o tornas visto. Ao fazer isto você comprometeu qualquer possibilidade de que aquilo fosse algo diferente do que pode ser visto. Não existe isto de esquecer o que viu. Este "o que" é a referência do que precisa ser negado. A não ser que esqueça que lembrou: aí terá visto novamente.
O objeto só foi o que sua visão poderia ver, você fez ele ser e tem responsabilidade sobre o "foi". Ele não pediu pra ser visto, ele nem é pra si a visão que você teve dele.
O que você vê é parte do movimento infinito sobre algo que só existe em si mesmo. Se este algo este "si mesmo" existir nos outros, há uma grande chance de que não haja diferença entre você e os outros.
Se é a ocasião que diferencia como cada um reagirá, todos os seres se multiplicam no tempo e no espaço. Isto por que são a mesma coisa vista pelos diversos ângulos dos acontecimentos e fatos.
Se o mundo te visse, você seria múltiplos de si mesmo distribuídos no espaço e no tempo. Mas você seria único e infinito, e os outros você mesmo sob diversos ângulos.
2 - A Consciência
A consciência em si é vazia. Ela surge no momento em que temos uma visão sobre nós mesmos. Na multiplicidade infinita do que somos, geramos deste nada indefinido que é o ser um olhar sobre si mesmo.
Um olhar incompleto mais que ao ver cria o "eu". Este "eu" poderia ser muitos, mas de qualquer forma ele é sempre incompleto. ele sempre pode deixar de ser, bastando que este múltiplo mude seu olhar.
Se este "eu" puder se mudar e alterar o próprio olhar que o projetou, ele deixaria de existir no momento exato em que ocorresse esta mudança. Isto faria com que o novo "eu" pouco soubesse do que era antes.
Por que tudo que olha se torna "eu" e outro é esquecido na infinitude do ser. Inclusive o próprio "eu" anterior que o gerou seria uma visão própria do novo "eu".
Como são múltiplos "eu's" possíveis, alguns que nunca terão chance de existir, o "eu" não existe a não ser como um olhar projetado da infinitude do ser. Este ser nada pode saber de si, e quando projeta um eu o condiciona a um olhar muito específico. É um ser que olha, o que ele na verdade cria.
Este olhar compromete toda sua existência na sua forma de ver. Assim se produz a consciência que é um "eu" que vê a si mesmo e o mundo, como algo que projeta certo olhar sobre o mundo e a si mesmo.
Ele é perene e efêmero. Uma projeção do ser cuja a propriedade do olhar o limita tanto para si quanto para o mundo.
Há algo preocupante nisto tudo. A multiplicidade do ser, em que se inclui a projeção do "eu", pode não ter este "eu" compreendido completamente pelos outros. Ou seja, o "eu" pode ser uma perspectiva muito específica para ser compreendida. Sendo possível que se possa ter muitas perspectivas através do infinito ser, mas nunca o "eu".
Isto por que o 'eu' é um fenômeno do ser, ligado a este ser. Como não há nem mesmo compreensão totalizante do próprio ser pelo "eu" quem dirá pelo ser dos outros.
3 - O Ser
Quando digo que existem seres, sempre digo da perspectiva de um "eu". O ser é uma infinitude. A questão é sabermos se as infinitudes são iguais ou diferentes. Isto é impossível de se determinar, pois dadas infinitas possibilidades não tenho como comparar com outras infinitas possibilidades. Em outras palavras, se não sei qual o valor de A, não posso dizer que A é igual a B.
Se digo que algo tem infinitas possibilidades, não posso limitar esta infinitude. Então na infinitude todos os seres são iguais. Ainda que eu limitasse a infinitude ao micro e ao macro trataria-se de uma mesma coisa.
Então é possível que todos os "eu's" de diferentes pessoas fossem um aspecto multiplicado do ser sobre o tempo e o espaço. Ainda que a multiplicidade fosse dada pela multiplicidade dos seres, para o "Eu" não há diferença entre o que ele foi e o que ele será e os demais "eu's".
4 - Conclusão
O "eu" é uma forma de projeção do ser. Este "eu" tem a propriedade do olhar e compreende a si mesmo e o mundo por este olhar.
Se algo acontece neste ser e o "eu" muda, muda também seu olhar.
Ainda que este "eu" pudesse transformar algo neste ser e este ser mudar o "eu" projetado, este novo "eu" seria completamente diferente do anterior.
Não há diferenças, para um "eu", entre os diversos "eu's" em do mesmo ser e os diversos "eu's" dos outros seres.
Visto que são infinitos não sabemos a real diferença entre os seres. É possível que "eu's" semelhantes se produzam e até se encontrem.
Sendo o "eu" uma projeção do ser, dotado de um olhar, esta projeção pode ser mudada ou mesmo extinta. Como projeção pode ser reproduzida nos mesmos tempos ou tempos diferentes. Em mesmos espaços e espaços diferentes.