3°x 1,5°
O embaçado do que vejo se converte em tempo atravessando o espaço para ver do outro lado da rua ou do planeta. A visão, o ambiente e os seres pagãos das raízes que me incrustam; todos se distorcem em partes dos traços que carrego. Tenho graus de diferença e resolução entre minhas mãos e o que elas fazem, entre os meus olhos e o que eles vêem; e sinto que pela garganta passa um som que nunca falo, e nas cores se passa um tom que nunca vejo, apenas percebo.
O sentido também vê, e ensina. Isso não se consegue esmagar atrás de um par de lentes que torna tudo mais nítido. Já não posso dizer se o que vejo com os óculos é exatamente o que vejo sem os mesmos. Sem as lentes, eu vejo os meus olhos no espelho com os meus olhos, e me vejo; com as lentes eu vejo apenas o que elas me mostram. E de dia andando exposto ao sol, às vezes devaneio entre as duas formas que vejo, olhando o reflexo dos meus olhos na parte de dentro da lente dos óculos.